sexta-feira, 14 de março de 2025

O sabor da estação


A inocência dessa folha em branco na minha frente, no mínimo, aguça o gosto travoso de caju na boca do estômago, algo semelhante a ondas persistentes de azia que parecem me devorar por dentro, sentimento ou pensamento angustiado de ser vivo que se mexe por si só. As palmas nervosas das carnaubeiras sacudidas no poente, retalhos de crônica antiga, acenam aos meus instintos de imaginação, pondo iscas miúdas de peixes aos derradeiros raios de sol, armadilhas dos pássaros em seus vôos apressados na busca aflita do pouso noturno.

Nisso, a mesma vontade de querer contar dos sonhos que nada revelam, de manhã cedo, nos pedaços de enigmas não resolvidos, restos de naufrágios que chegam escuros a uma praia deserta, lenços acenados à distância no passado pelas estradas vesgas do futuro.

Desde ontem a espiral da vida, em forma de calendário, cobre os primeiros cantos do alvorecer. Brisa suave, fria, enovela os códigos nas lâminas que se sacodem de árvores próximas. Pastos verdes conduzem as reses ao curral. Ninguém mais aguarda chegar notícias e profecias, depois que vulgarizaram dizer que o tamanho da perfeição controla a ausência de certeza nas pessoas humanas.

Por conta das aparências, notas estridentes comprimem os tons da sinfonia das esferas e poucos fiéis resistem ao amanhecer. Querem novidades, contudo impõem condições para receber o que o vento conduz de revelação.

Essas marcas já comprimem a musculatura dos ombros e sugerem presenças estranhas, no campo vibratório das criaturas. Seres de outra dimensão buscam dizer aquilo que ninguém ousa interpretar. As palavras, ao seu modo, escrituram as atitudes invisíveis. São sinais em forma de protesto ou cobrança aos viventes que esqueceram o valor da concentração coerentes com os princípios do Bem, na exata revelação dos elementos eternos.

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