quinta-feira, 27 de março de 2025

Cores ainda mais fortes


Surpreendentes e livres, feitas chapéus voando arrancados pelo vento, as palavras escapolem pelo ar em pedidos fervorosos de socorro, à busca súbita de outras cabeças aonde repousem, noutros pensamentos clandestinos. Aliás, pensamentos talvez digam pouco para expressar o ímpeto do coração nessa indefinição entre as trilhas do desejo e a matéria elaborada no forno da consciência. Depois, chegarão destroçados à boca mecânica da indiferença. Isso que seja assim, mais sentimento, invés de pensamento, onde esconder o instinto de querer dizer do instinto de querer simplesmente.  

Nisso, elas invadem faceiras o salão de baile das noites cinematográficas do Tempo e rasgam as fibras cor de jambo dos tecidos cardíacos dos apaixonados. Rompem, num único gesto, o império bizantino do medo casto dos regimes ditatoriais. A primeira imagem que ressurge lá adiante, no minadouro das ideias, seria qual o movimento da perpetuação solar nas fímbrias do entendimento; albores das mais lindas manhãs das intensas paixões desarvoradas. Laivos vermelhos, com riscas alaranjadas e pomos amarelo queimado no branco do alvorecer.

Elas, sim, num dia desses de manhãs, de beleza sem precedentes, também nos trazem gestos da alvorada dos dias anteriores, ainda que havendo guerras, convenções, incertezas humanas; elas, a explodir de suavidade, gravam pacientemente corações enormes nas paredes do Infinito. Divinas gazelas no jardim do Paraíso, andam macias no meio de cactos, boninas, luares, marmeleiros, garranchos, zumbido solto de linguagem cifrada, cumplicidade sideral das abelhas com elas mesmas; riscos e desenhos magistrais de perfumadas flores nas vestes esvoaçantes de um corpo escultural.

O fervor, por sua vez, amacia o impacto dos primeiros raios sobre a superfície dessas cores vivas e deixa encrespar as águas serenas em volta, aquecendo a pele na lúcida imagem do céu, que contorna de verdes ramagens o que restou do parto feliz do dia que nascera dessa trama genial.

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