segunda-feira, 24 de março de 2025

O abismo do desconhecido


E saber disso por dentro de si... lá no infinito da compreensão entre labaredas e sonhos, bem ali junto dos escombros do que se foi, restos apagados nas distâncias, e depois abandonados; as lembranças vagas de um ser, este que contempla as margens do rio onde mergulhou quantas e tantas vezes, e agora aguarda a outra margem que desde sempre observa. Afoitos, prudentes, esquecidos no meio de cascalhos e flores, perduram os firmamentos, que passam inevitáveis pelo espelho das águas. Destarte, grudados a objetos, ideias, sentimentos, dormem a sono solto nas dobras do Destino.

Nisso, algo mais acontece do lado de fora que nem de longe haver-se-á de saber, talvez deixado pelos deuses do abandono. Uma caravana lhes persegue, à busca das ilusões. Há de haver meios que sejam, à custa de um Tempo que escreve, implacável, seus capítulos na alma das criaturas humanas.

Bem junto da gente, uma voz ensurdece a passos breves, na crosta dos hemisférios cerebrais; dores e lamentos dos que se foram, e visagens no limbo das consciências indagam o que fizeram de estar aqui, no entanto estáticos, assustados. Imóveis, quais meras estátuas, nesse deserto do Mistério, são indagações em forma de figuras; apenas observam o deslizar dos pensamentos, nada mais.

Noutro momento, nem sei quando, na maturidade das estações, ouvir-se-á gritos a perseguir os vultos que fogem na escuridão do passado. Descer-se-á ao barco do desejo e alimentarão de cores as outras histórias. Sobreviverão, quem sabe?, aos segredos desse caminho de novas paisagens. Daí, adiante, ser-se-ão tão só fagulhas de quando vieram. Trechos longos, frases a mostrar roteiros mil do que houvesse de ter sido, no entanto nisso escutam o rangido estridente dos portões do Paraíso.

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