Tempos do sem fim é o que se vive. Depois de existir, resta agora conhecer a que viemos. Isso bem diante de um espelho, no império da razão. O presente e o pensamento, este por vezes presa do passado, ou o de um futuro imaginário. Tudo resume, pois, encontrar a sintonia perfeita de nós com nós mesmos, distância, a bem dizer, infinita. Seremos esse agora em movimento na tabela das horas contínuas, quando decodificaremos de comum a que vêm os mares de ilusão trazidos de dentro desse tal espelho.
Há um acesso constante ao mundo externo, cercado de passados e futuros, na face do espelho irreal. Enquanto, no íntimo de todos, dorme neutro o plano das expectativas do que virá um dia, no prumo das vidas sucessivas. E somos o senso, a visão ainda embaçada desta realidade real aposta no horizonte.
Nisto, face ao tanto dos acontecidos de toda hora, excessos de imbecilidade e sordidez constrangem, no entanto, que persistem chamar de viver. Uma imensidade feita das aberrações contra a Paz, a Natureza, o Equilíbrio, e temos parte nisso, nem que busquemos fugir sem saber aonde. Porém outro meio inexiste senão tocar em frente pelo uso dos recursos à mão. De pouca estrutura suficiente de conter a animosidade, os desafios, resta mergulhar em si, desvendar o mistério e sobreviver na essência imortal. Consta evoluir através da consciência, e revelar, certo dia, a realidade real que nos habita.
Conquanto haja os limites da multidão enfurecida pelo egoísmo, a alternativa, o instrumento, será o encontro desse Eu real, a origem do eterno que em nós ora transportamos. Invés de, tão só, deixar-se perder nas entranhas do espelho, consistirá da presença efetiva do ser em Si Mesmo, sentido único do quanto nos traz até aqui. Tal qual dizem neste tempo, sair da Matriz e viver a real finalidade do quanto existe.
(Ilustração: Liv Ulmann, em Vergonha, de Ingmar Bergman).
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