quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Conter o Tempo


Quero crer ser essa a fonte da angústia, desejar dominar a sua ação misteriosa e sustentar de algum modo a força dos momentos que passam e transformam os acontecimentos em memórias. Espécie de matéria prima da existência, utilizamos na medida de nosso jeito de compreender. Vemos suas marcas em tudo. Nem de longe se dispõe da real identidade desse deus poderoso. Tempo e existência, movimento único sob que habitamos. Noites. Dias. Antes. Depois. Um presente indomável ainda que nele estejamos atônitos. Das interrogações quanto a este ser abstrato que move o espaço, ninguém revive seus minúsculos componentes de uma sentença inevitável.  

Segundo místicos, o Tempo é uma abstração, apenas isto. Nós seríamos decerto os passageiros de corredor sem fim que estaria eternamente, e nós passamos nele, aonde outros também passarão. Criamos nisso todas as fantasias que permitem a nossa imaginação por meio de pensamentos e sentimentos, as secreções individuais. Quando parece desaparecer o movimento dessa incansável sinfonia, bem ali recomeçam novos espetáculos, encenados agora pelos novos atores, vistos pelos novos espectadores, num circo esplendoroso, perfeito.

Já dissemos nalgum texto que o Tempo é dos mais respeitados orixás do candomblé, sendo reverenciado no início dos rituais, a cada vez. Bem dizer, respeitado em toda atividade humana qualquer que ela seja; significa origem e declínio das civilizações, dos empreendimentos; enquanto as criaturas, uma a uma, rendem graças ao seu poder exclusivo, até sabe Deus quando.

Escolas de pensadores orientais suscitam a necessária importância de dominar o pensamento e aceitar o sentido absoluto do desconhecido. Há o que a razão jamais identificará, o inexplicável, que transcende raciocínios e interpretações, e simplesmente dão de conta, nos segmentos da Lei do Universo, ao transe entre Ser e Existir. Dentro disso, tal fogueira imensa de fenômenos, persistiriam objetos e abstrações, num mar de consequências inextinguíveis, submissos ao domínio perene de uma consciência maior, senhor do quanto houver.

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