Quero crer ser essa a fonte da angústia, desejar dominar a sua ação misteriosa e sustentar de algum modo a força dos momentos que passam e transformam os acontecimentos em memórias. Espécie de matéria prima da existência, utilizamos na medida de nosso jeito de compreender. Vemos suas marcas em tudo. Nem de longe se dispõe da real identidade desse deus poderoso. Tempo e existência, movimento único sob que habitamos. Noites. Dias. Antes. Depois. Um presente indomável ainda que nele estejamos atônitos. Das interrogações quanto a este ser abstrato que move o espaço, ninguém revive seus minúsculos componentes de uma sentença inevitável.
Segundo místicos, o Tempo é uma abstração, apenas isto. Nós
seríamos decerto os passageiros de corredor sem fim que estaria eternamente, e
nós passamos nele, aonde outros também passarão. Criamos nisso todas as
fantasias que permitem a nossa imaginação por meio de pensamentos e
sentimentos, as secreções individuais. Quando parece desaparecer o movimento
dessa incansável sinfonia, bem ali recomeçam novos espetáculos, encenados agora
pelos novos atores, vistos pelos novos espectadores, num circo esplendoroso,
perfeito.
Já dissemos nalgum texto que o Tempo é dos mais respeitados
orixás do candomblé, sendo reverenciado no início dos rituais, a cada vez. Bem
dizer, respeitado em toda atividade humana qualquer que ela seja; significa origem
e declínio das civilizações, dos empreendimentos; enquanto as criaturas, uma a
uma, rendem graças ao seu poder exclusivo, até sabe Deus quando.
Escolas de pensadores orientais suscitam a necessária
importância de dominar o pensamento e aceitar o sentido absoluto do
desconhecido. Há o que a razão jamais identificará, o inexplicável, que transcende
raciocínios e interpretações, e simplesmente dão de conta, nos segmentos da Lei
do Universo, ao transe entre Ser e Existir. Dentro disso, tal fogueira imensa
de fenômenos, persistiriam objetos e abstrações, num mar de consequências
inextinguíveis, submissos ao domínio perene de uma consciência maior, senhor do
quanto houver.
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