Esse poder que as palavras têm de percorrer os caminhos da memória determina suas infinitas histórias às vezes nascidas dos sonhos, viagens, livros, numa sofreguidão a bem dizer que impossível fosse. Das tantas alternativas de avençar no eito da imaginação eis que nenhum lugar estranho haverá até onde se possa chegar. Certa feita, ao andar em sonho numa floresta até então desconhecida, me deparei com um santuário em ruínas, no meio de restos de madeira e folhagem, isso de tempos remotos e de religião inteiramente fora de meu conhecimento. Aquilo deixou margem a que pensasse em quantos rincões por demais distantes dagora, entre troncos calcinados, árvores caídas, escavações perdidas, semelhantes a nós próprios, nossos passados reencarnatórios, outros mundos que sumiram noutras dimensões e galáxias. Equivalentes a isto, perduram, também, através da gente essas relíquias dos espaços deixados nalgum firmamento lá de dentro, espécies de algo perene, inextinguível, pois.
E trazer de volta tais heranças significa o mister da arte
em seus mais diversos matizes. Pensamentos feitos de sentimentos; sentimentos
refeitos de palavras... Em um processo contínuo, porém, as histórias percorrem
as consciências e vêm à tona no decorrer da criação. Sons, matizes, formas,
movimentos, aventuras, um sem limites de transformações reviram nas almas os
seus alumbramentos, conteúdos e regressos da mesma existência, na forma de emoções
e furor. Quais corredores infinitos assim o somos, nas tantas e tantas vidas,
nestes corredores sagrados da essência de si, pedações do Universo que nos
compete ser.
Os livros trazem disso profundos depoimentos, dessas
incursões intérminas, ideias e vários segredos, semelhante às inscrições rupestres
de nossa presença nesses percursos, determinando os registros das vivências
pela Eternidade de onde um dia chegamos aqui.
Ao avistar esses encantos quase impossíveis, espalhados pelo
mundo, nos sentimos partes de um todo em formação, epopeia que se elabora na
mesma proporção de nossa sensibilidade em crescimento. Nalgum instante, ao
reunir de tudo o que sejamos capazes de interpretar, daí, decerto, totalizaremos
o mistério que desde sempre vimos experimentado.
(Ilustração: Sucatas eletrônicas).
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