São os trilhos abandonados em selva escura, mesmo assim que ainda deslizam no vazio de movimento real dos tantos comboios do Infinito a percorrer as ausências dos quantos personagens que ali viveram, e vivem nalgum lugar do Universo. Vezes sem conta ouvem o som do apito que nunca traz consigo a composição do passado, sem nunca apontar nas curvas, todavia que insiste dizer das muitas eras foram guardadas no íntimo das visões dos que antes habitavam o percurso e dividiam as histórias de um tempo só agora desaparecido.
Nisso, elas, as palavras perseguem a gritam aos ouvidos
desses outros que vieram depois. E o mais incrível, elas narram, descrevem,
observam o estrilo dos metais de encontro ao solo e o cadenciado da máquina que
puxa os antigos vagões. Deixam claro a que se destinam, entre remoinhos e
farpas, a rasgar o espaço, fustigando consciências e rompendo perspectivas
doutras compreensões às gerações que chagariam logo em seguida.
Qual explicação disso, da persistência em tocar adiante
aquilo que antes fora, ninguém há de justifique doutro modo, senão à base das
virtudes do inesperado, do inexplicado, do assombro. Vivem, sobrevivem, nas condições
de existir a qualquer custo, pelas bibliotecas e suas prateleiras frondosas dos
museus esquecidos deste mundo antigo. Nem que impossível, no entanto vivas na
alma das gentes, das levas de fantasmas que dominam as noites profundas de
mistérios e expectativas.
Transcorrem iguais itinerários agora deixados ao léu da
sorte nos ombros dos piões e das horas esquisitas, após os longos apitos da
locomotiva, e crescem na imaginação das criaturas, e correm léguas distantes no
sabor de verbos e regimes, as classes gramaticais. Luares, vastidões, amores,
tudo que resumo o desejo voraz de prosseguir nas lendas transitórias que devoram
as gerações inteiras. Permitem, entretanto, que, nisto, tragam consigo
significados suficientes de recontar todo, nesse argumento prescrito nas
cavernas de dentro das pessoas e aceitam desfazer o segredo aqui depositado em
pedras toscas no caminho que ora somos.
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