O que contar agora face às tantas falas e tantas histórias do que já se viu no decorrer de tudo que aqui passou, eis o trecho do percurso a observar e deixar em branco todas as páginas que disso viessem posterior. As interrogações principiaram desde as primeiras expectativas de querer escrever e ainda não saber o quê. Sustentar, no entanto, a vontade constante de conversar consigo através das palavras; significar, pois, decisão de preencher o vazio dos pensamentos e sentimentos, e manter em riste o desejo de encontrar as respostas daquilo que o passado gravou nas malhas das recordações. Reviver, talvez, seria o termo mais adequado, numa melhor intenção, e refazer as emoções e conclusões daquelas horas inscritas na saudade que ficou. Porém nem isto ser-se-ia o valor do que pretendemos ao parar e escutar as falas da gente com a gente mesma lá dentro de si. Qualquer motivo importaria nisso, em parar um pouco e prescrutar o movimento dos astros em nossos firmamentos, cavernas escuras do que se lera, se presenciara, vivera, nas diversas situações disso, desse ausente no entanto latente nas dobras da consciência.
Espécie de relatório dos dias antigos a isto equivale
escrever, trazer de volta, detalhar experiências, frações de vivências, pessoas,
filmes, livros, shows, diálogos, amores, frustrações, planos, viagens,
esse tudo harmonioso de antes que no futuro avolumou no oceano das eras em nós,
a pedir clemência de haver sumido pelas frestas do tempo quais meros fatores arcaicos
dos apaziguamentos da existência com o que depois viesse a ser. Conquanto floresta
só de sonhos antigos, pedaços das pessoas riscam os céus da nossa memória, feitas
cenas perfeitas da atual solidão aonde construímos possíveis roteiros doutras
oportunidades que virão em seguida.
Face a tanto, saltamos de parágrafo e queremos continuar a
todo custo nesta confissão pessoal de resistência, a preservar os ídolos que largamos
pelo caminho, hoje relíquias preciosas de tudo quanto vivemos então e que fazem
parte integrante de nosso ser atual.
(Ilustração: Kagemusha (O sósia do Imperador), de Akira Kurosawa).
Nenhum comentário:
Postar um comentário