A estrada e os livros

Quando, agora, resolvi reorganizar as estantes e apurar o que conduzira até aqui em matéria de livros, presenciei algo que evidenciou, a bem dizer, a história de uma vida, isso desde as primeiras edições que me vieram às mãos no decorrer das diversas épocas. Um a um, a afetividade dos momentos, daquelas fases em que os li, ou me chegaram, afloraram com nitidez, apresentando de volta, inclusive, o quanto me influenciaram pela vida.

Lembrei os primeiros livros que ganhei de minha mãe, ainda na infância, contos, narrativas fantásticas, lendas, histórias de reinados, mistérios, bem ao gosto de um período de formação. Na minha casa, Lydia, minha irmã, também teve esse gosto pela literatura. Na adolescência, então, recebemos o Tesouro da Juventude, Mundo Pitoresco e Obras Completas de Machado de Assis.

Logo em seguida, faria incursões à coleção das Seleções do Reader’s Digest, que meus pais guardavam do tempo da Segunda Guerra, em que mergulhei durante horas e horas. Daí, vieram os grandes romances de autores brasileiros e estrangeiros. Isso até os livros teóricos dos cursos, secundados pelos contos e lendas populares, de que gosto tanto, e temas nordestinos, religiosidade, folclore, Cariri, cultura popular, história regional, episódios clássicos, política, filosofia, religiosidade, psicologia; uma imensidão de assunto que, dados os afazeres, tornou-se proibitiva, ou deixada a outras oportunidades porvindouras. Reuni, pois, uma vasta biblioteca que, há pouco, resolvo delinear, acondicionar nos seus lugares e saber aonde encontrar depois.  

Conquanto preservadas com cuidado tais preciosidades, no transcorrer do tempo houve que resumir nos temas melhor indicados a esta hora. E foi examinando pacientemente, havendo de manusear livro a livro. Então veio à tona esse poder que os livros têm de acondicionar a impressão biográfica das  vidas dos leitores. Mais que apenas um filme, têm o condão de trazer de volta aqueles instantes exatos da existência, de onde, quando, porquê, as impressões psicológicas, sentimentos, questionamentos, apreensões, um verdadeiro acumulador das realidades daquelas ocasiões quando caminharam conosco na longa estrada do tempo em que presenciávamos o mundo e nos acompanhávamos destes amigos fieis, as produções literárias que fazem parte da nossa consciência neles adquirida.