Ó alma, não cunhe moedas com o ouro das palavras. O buscador é aquele que vai a própria mina de ouro. Rumi
Por vezes me pego a considerar o movimento incessante das
palavras dentro do pensamento, as surpresas das lembranças, os recintos da
mente que parecem ter sua própria geografia cravada nesse mistério que
transportamos. Surpreende a constância de como chegam os resquícios das horas
lá de longe no passado distante ou recente, demonstrando que a gente é sujeito
esquecer, porém há um ente vivo que dança livre entre as sombras das memórias.
Vez em quando resgata lenços de recordações que jamais regressariam não fosse a
tal persistência desse eu que, talvez até sem ter o que fazer, fica escarafunchando
essas tais latas do lixo que sobrou nalgum lugar da gente ali por dentro.
Quero mesmo crer ter vida própria esse ente fortuito que
surge de repente com seus filmes nas telas da imaginação e sacode andrajos
envelhecidos, carcomidos, bem ali à minha frente. Vejo pessoas, repassam
sentimentos quiçá nem realizados hajam sido, folhas soltas de livros
abandonados naquelas estantes empoeiradas, ora inexistentes que fosse.
Isso que acontece de paralelo ao momento presente. Quisesse
bem nem existissem nunca mais, entretanto voltam pegajosos, vingativos,
insistentes, pois. Claro que sei ser nada fácil de enfrentar o barco desses afiados
piratas do meu firmamento. Hora negocio, busco uma chance de neutralidade,
porém sei que o assunto é comigo, porquanto fora o protagonista dos dramas que
ocasionei, das vacilações escondidas debaixo de tapetes rotos, contudo
peças do armarinho de atitudes, omissões e compromissos adiados, lançados na
fornalha aquecida do Tempo.
Essa função tardia do que sou agora risca na alma um alerta
quanto aos dias vindouros, porquanto pretendo admitir sermos réus e juízes da
Natureza, de modo igual aos horizontes a que seguirmos, no intuito de, no
momento exato, receber de Deus o perdão e a Salvação. Esses registros gravados
a ferro e fogo na nossa consciência farão, decerto, o arredondamento do que de
fiel transportar em nós, no nosso ser íntimo, de coração, memória, sonhos,
virtudes, a formular o painel claro da nossa individualidade, fruto original do
que seremos, autores e herdeiros da Luz que em nós se fará.
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