Ontem e amanhã, antes e depois da Eternidade que mora nos humanos. Linha divisória entre tudo e nada, rompemos as horas mortas quais bólides feitas de meros momentos que transcorrem no tempo enquanto outros seguem apressados rumo ao desconhecido e lá também certo dia chegaremos. Já foram tantos os que vivenciaram essas cólicas de perfeição e deixaram desaparecer as chances da descoberta que, contudo, tornaram presas fáceis de coisas inúteis, fiapos e gravetos. Filhos do agora, porém inconscientes da revelação do mistério, vivem soltos às ilusões do desejo e abandonaram a luz da fertilidade plena em mãos do esquecimento.
Muitos, milhões, centilhões, carregam, pois, o peso de todos
os Prometeus atoleimados através do provir das provas, absortos naquilo que
deixaram atrás, e padecem nas subidas as quedas, fantasmas das encostas
escorregadias. Flertaram na imortalidade, embelezados com a própria sombra,
tremeluzindo nos lagos, e acham bonito o verso do espelho que hipnotiza e
embriaga os repastos dos abutres, escravos do prazer e da dor, na dor e no
prazer, princípio e fim, e recomeço de tantas e quantas vezes.
Eles são os nós, pássaros desta fome e floresta de repastos
de deuses mórbidos que eles mesmos criaram luas sem conta. Mergulharam o abismo
da ausência nos finais que lhes aguardam, rindo à toa do drama de ignorar, e
sonham, e padecem inebriados de fulgor e desencantados pelas gerações sucessivas
mundo afora.
Sabem só que há razões de continuar; o que nutrem as feras das
paixões, e amarguram a fome de amar, o apego desesperado de prosseguir vivos e
cegos na ignorância de conhecer, falar e não praticar o que disseram. Focos de
visão encandeada, assim sobrevivem dentro do Sol e andam em círculo,
semelhantes a cavalos de carrossel, a fugir da alma ali jogada no tabuleiro da luminosidade
e da paz, rios abertos da Felicidade. No rosto deles, a face de todos nós.
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