Num território por demais cheio de outras realidades distantes, elas vagam soltas entre os pensamentos. Edifício que se constrói no decorrer das vidas, crescem na medida em que um ente central as conduz. Formam sucessivas, longas histórias; deixam largas impressões, lembranças, cenas mil dos tantos momentos, quantas pessoas, sentimentos. Vivescências que alimentam a sequência do caminho de todos, cada uma à sua maneira, formam mundo estranho, individual e coletivo; sustentam de memórias o lastro faminto do tempo em que transcorrem. Descrevem, narram, imaginam, preenchem de ânsias as existências inteiras, numa procura incansável da compreensão plena do que carregam em si. Perguntas, perguntas. Olhos abertos ao Infinito, suportam doridas a solidão das horas. Distinguem as cores do mistério que assim buscam desesperadamente tocar.
Elas somos nós. Existem, existimos nelas. Vida própria das
palavras, seres que percorrem nossas entranhas e ficam grudadas a nossa alma.
Gritam dessa urgência de paz no coração de todos. Quintessências do que passou
e impossível foi que as contivéssemos na consciência, por mais que
desejássemos. Sonhos abertos no pomo da presença. Feras e anjos a percorrer os
destinos através da gente. Lâminas afiadas de realidades, acionadas pela mente,
quais nos arrastam no filão do Absoluto.
Essa vontade incontida de revelar o que significamos diante
dos sóis, apenas indicam, aos poucos, o que desejamos, e aquietam, de certo
modo, a angústia das indefinições que crescem. Ilusão em forma de significados,
apenas mostram o que aguentamos ver na distância. Nisto, suportamos a marca
desses limites e significados, juntamos esforços de resistência e sublimamos a
ausência de Luz onde ainda mourejamos.
Isto, este espaço sacrossanto das palavras em que pisamos
pouco a pouco na persistência de, lá certa feita, encontrar o segredo e descerrar as portas do silêncio. Marcos deste hemisfério de raciocínios, agora
representamos papeis só parciais do que haveremos de ser. Tais nítidos apegos à
matéria, já conhecemos das dores de habitar esse corpo transitório, e erguemos
aos céus nossas vistas, náufragos de outros mares esquecidos, enquanto elas
representam a única relíquia que aqui guardamos conosco durante o longo percurso
que nos traz até agora.
(Ilustração: O gráfico, de Gustave Doré).
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