sexta-feira, 16 de agosto de 2024

Sons do Poente


Nesses finais de tarte, tudo vem à tona de novo doutros tempos aqui mesmo em Crato, época dos anos 60, nossos dias de interrogações sacudidas pelo mundo afora entre ecos distantes de guitarras, lamentos de guerras e expectativa do que estaria a caminho desde então. As emanações da Aldeia Global aos poucos expunham sua face através dos meios de comunicação de massa e chegavam aos rincões da infinitude lá de longe, nas quebradas do imenso Sertão. Nós, geração dos mais recentes aventureiros da sorte, agitávamos os anseios e saíamos claudicando na fome dos passos seguintes, a reunir versões variadas dos dramas contidos no cinema, na música fervilhante dos festivais doutras nações, bossa nova, protestos, olhos fitos no revés de um céu corado nas luzes do interior.

De tudo isso agora restam iguais emoções, amores esquecidos pelo tempo, na alma das criaturas. Reconto quais histórias nos alpendres do coração, sustentando os desejos de quantas epopeias trazidas pelos livros, filmes e discos, numa sustentação inesperada de que tudo mudaria e guardaria em si outras paisagens do Eterno que vivem aqui conosco sem cessar do jeito idêntico do que fora. Os heróis, as estrelas, as bandas, os acordes dissonantes, estridências das primeiras harmonias, viagens sem destino, noites de multidões entorpecidas no âmbito de perguntas vagas do que viria depois e que hoje somos.

Bem isto, o furor dos fins de tarde espalhados neste pé de serra silencioso, próprio a desfrutar dos instantes mágicos de uma juventude algo fantástica, dos filmes de ficção científica nunca desaparecidos, no entanto. Lembro com imensa facilidade de todos eles, detalhes, personagens intrépidos e perdidos naqueles céus cheios de lendas, à espera das luzes tão asseguradas pelas convicções dos nossos infantes adormecidos nas telas escuras.

Contudo, ainda que passemos pelas encostas disso que agora produz lembranças de ocasiões adormecidas, ainda assim quais frutos colhemos desses plantios? – pergunto calado. - Aonde foram parar nossos sonhos de Paz tão alimentados nos grupos e nas esperanças felizes que nutriram aqueles jovens sonhadores? A tarde apenas escurece no azul entre as árvores e adormece aos derradeiros clarões de nuvens avermelhadas...

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