Numa bela manhã do inverno sertanejo, eis que sapo dorminhoco se viu acachapado na lama, debaixo das patas de touro pachorrento, descuidoso, muito bem nutrido e indiferente, que se deliciava no pasto de uma represa dadivosa.
Aflitos momentos atravessava o pobre animal, debatendo-se no
propósito firme de reaver a inestimável liberdade; reconhecia, no entanto, as
dimensões restritas do próprio esforço, querendo, ainda assim, preservar a
qualquer custo os benefícios raros de permanecer inteiro e sadio na face da
Terra, desejo partilhado pela grande maioria dos muitos que moram neste
chão.
Via-se empenhado no trabalho circunscrito, quando, na mesma
hora, uma sariema, que descia para beber água no alagadiço da vazante, passou
pelas imediações e percebeu, dado o aperreio daquela situação vivida pelo
inditoso batráquio, ocasião ímpar de prestar-lhe solidariedade, por se tratar
de um outro irmão da Natureza, cuidando logo de tomar chegada para descobrir
mais sobre o caso, e (quem sabe?) auxiliar, permitissem os meios disponíveis.
- Camarada Sapo - foi o modo como a sariema prestativa se
dirigiu ao bicho encalacrado, - o que fazes nessas circunstâncias tão desconfortáveis,
constrangido sob o peso descomunal de tamanho gigante bovino?
- Nada não, dona Sariema - respondeu o sapo, que,
esforçando-se ao máximo para demonstrar sinais oportunos de espontaneidade, ainda teve fôlego para acrescentar: - É que estou
apoiando, seu Touro, no zelo de prevenir que ele não viesse escorregar e cair
neste traiçoeiro lodaçal. Aí, sim, me faria sofrer muito mais além da conta.
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