Se caíres no oceano da vida exterior, como uma perdiz cujas asas e penas já não podem sustentá-la, nunca deixes de pensar como chegar à praia. Farid ud-Din Attar
A ânsia que lhe fez sair do Paraíso, na fase intermediária em que estamos entre a sombra e a Luz, desde então se vive a vaga do sabor das circunstâncias, exclusivo dos prazeres imediatos desse mundo denso. Fosse, no entanto, avaliar o quanto lhe resta de jornada até rever o crivo da compreensão, ver-se-ia nos mesmos abraços da Mãe Natureza que lhe trouxeram até aqui, quando sustentava claro o vínculo direto com a Eternidade, raiz de dores e esperança de outro sol que nascerá.
Um céu de luzes e cores, contudo, alimenta de respiração os seres que somos, e, nisso, quantas aventuras restam ninguém ainda sabe, exercício da compreensão fiel do que haveremos de ser nalgum dia. Dotados de imaginação suficiente a obter o alimento da certeza, mesmo assim persistimos em aceitar a determinação de acreditar nos valores que tão só agradam o corpo de matéria, nosso instrumento de cura que desfazemos ao furor dos apetites físicos. Somos isto, um trecho intermediário da experiência dos sons e das horas que conosco se desmancham de fragmentos e dores.
Ainda que tal, reveremos o trilho que deixamos após entregues à dualidade dessa história. Puros aprendizes de Si, divisamos nova satisfação a todo instante, num adiamento sistemático da realidade verdadeira em nós existente.
Eis a longa caravana que impera no saber de todos, justos detentores da liberdade, porém longe que estejam do senso absoluto de uma busca incessante, contraditória. Estranhos a Si, palmilhamos o caminho da realização sob o crivo dos danos imediatos da fome de degustar o quanto permitam os sentidos. Pelos iguais motivos de contestar a fonte original da Criação, quais cativos da desobediência, deixamos de lado a certeza da libertação definitiva a viver qualquer tempo.
(Ilustração; O sétimo selo, de Ingmar Bergmann).
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