sábado, 24 de agosto de 2024

Sonhos de perfeição


Eis então que acreditei no Pecado Original, que não é nada mais do que a primeira vitória do ego.
Czeslaw Milosz

Quando isto aconteceu de uma hora a outra, em meio a memórias, pensamentos e palavras, chegavam de novo as ideias do quanto, lá num tempo imaginário que se tenha de aceitar, há de se remover montanhas qual o velho da fábula chinesa de acreditar no impossível e viver às margens do Infinito. Por isso, diante dos eternos seres em movimento quais aqui agora, vagos senhores de espécie estranha, abstrata, ainda na busca de conhecer donde vem e aonde vai, olhar-se-á a si e revirará os astros em meio de flores e fragmentos.

Isto bem significa, pois, tocar em frente o desejo de ser qual somos, artesões em delírio, só, porém, enquanto fixamos extasiados o oceano em volta, navegantes das alturas em barcos de papel; tantos afazeres e cicatrizes, doces amores e miragens intensas pelas encostas do firmamento.

Algo assim que sobrevive às quantas gerações, deixando ao léu relíquias e monumentos soterrados nas idades afora, contudo luzes de persistência no ímpeto de acontecer nalguma dessas luas mais intensas. Sobreviver com isto a enormes anseios que nos contorcem as entranhas, tais pequenas fagulhas de fogueiras monumentais, somos quais nuvens de poagem escura sobre esses montes de solidão onde plantamos o futuro. De furiosos vilões enlouquecidos a santos viajores das planuras sem fim, nós, lúgubres criaturas de contos e romances, personagens e autores dos mesmos delírios a todo instante que passa.

Logo ali adiante, dentre luzes e bênçãos, virão, outrossim, as hostes da transformação inolvidável de que avisaram os profetas nas suas angústias, desde sempre; de rústicos precursores, nesse momento, ver-nos-emos hércules e titãs a refazer as trilhas do mistério, cobrindo-nos das lavas de uma fumegante felicidade.  

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