Primeiro de tudo, regra número um, questão de sobrevivência, jamais engolir essas folhas brancas que voam pelo ar, os tais sacos plásticos, lixo espalhado nos cantos distantes da cidade, aqui aonde vim trocando patas, depois que me largaram nas quebradas, animal de tração de segunda, destituído das qualidades industriais de depois dos açudes, barragens e s estradas asfaltadas. Triste não servir a mais nada.
Sei, sim, que quando chove aparece babugem nas beiras das estradas e alimento nunca falta, contudo, nos meses secos, a peleja vem de novo e aumenta; meninos vadios enchem a paciência da gente quando querem; sobem no meu lombo e futucam lá atrás com pedaços amolados de madeira, pegando corrida uns com os outros, coisa de gente desocupada. Tudo acostuma, o que é ruim, o que é bom. Perdem-se os caprichos de andar parecido como os burros ou os cavalos, primos ricos pretensiosos conservados nas reservas, a fim de serem explorados em trabalhos forçados ou nas pegas apostadas dos finais de semana.
Homens, esses animais imprevisíveis; agora eles acharam de corre montados latas coloridas, que enchem estradas forradas de preto, vez em quando trombando pernas, focinhos dos bichos agoniados, jogados nas pistas de velocidade. Respeito, esqueceram até consigo mesmos; conosco nem pensar. Uns ingratos; embriagados, então, viram sádicos, arrancam pedaços, machucam e esquecem fácil, fácil, as missões que nos confiaram nos momentos de trabalho do passado.
Meio monótona continuar isso tudo, andar à busca de surpresas quase sempre desagradáveis, na monotonia de ocupar lugares inexistentes e campos que, indiferentes, vida de estrangeiro, pois viemos da Ásia e nessa terra nos largaram.
Há notícias de, um dia, transportarmos a Família Sagrada, na fuga ao Egito, mas isso lá nos tempos envelhecidos, palavras guardadas só em livro; e sermos restos de civilização pouco preservados entre as dobras do sentimento. Longe, bem longe, aconteceu a viagem do Oriente, enquanto ainda hoje quase ninguém lembra mais a aventura de transportar o Príncipe das Nações.
Vivemos assim, nas periferias dos lugares, bichos anciões, criados soltos por causa da inutilidade em nos transformaram, semelhantes às garrafas secas que chutamos no escuro das jornadas.
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