sexta-feira, 20 de junho de 2014

Os peixinhos

A sabedoria oriental busca, na simplicidade, os mistérios da alma humana. Estuda a natureza através da observação dos acontecimentos e considera os fenômenos quais instrumentos válidos de consideração dos elementos vivos que existem fora e dentro da pessoa que observar. O princípio que de tudo flui, por isso, nos sentimentos ativados pelos sentidos, ativa nos observadores a capacidade que permite ultrapassar as limitações impostas nas indagações de cada um dos acontecimentos naturais.


Nada melhor, no entanto, do que narrar esse episódio das histórias do sábio chinês Chuang Tzu quanto ao que denomina a felicidade dos peixes. 


Numa bela manhã de primavera, passeavam Chuang Tzu e Huei Tzu pelas paisagens luminosas de verdes campos, quando, ao cruzar a ponte sobre o rio Hao, notaram o movimento dos peixinhos nas águas claras logo abaixo deles, e o primeiro comentou: 

 – Veja como os peixinhos nadam! Nisso consiste a felicidade do peixe. 

 O outro parou alguns instantes e trouxe à baila pronta indagação:

– Você não é peixe, como pode, então, querer saber o que seja a felicidade de um peixe?

Isto foi o suficiente a que o diálogo seguisse adiante: 

– E você não sou eu, - disse Chuang Tzu - como pode, então, saber que eu não sei da felicidade dos peixes? 

– Se eu, não sendo você, não posso saber o que sabe, - insistiu Huei Tzu - se deduz que você, não sendo um peixe, não pode saber em que consiste a felicidade dos peixes.

Chuang Tzu, calmo, manteve o silêncio pensativo, mas ainda acrescentou:  

– Voltemos à nossa questão inicial. Perguntou-me como podia saber qual a felicidade de um peixe. Só essa pergunta prova que você sabia que eu sabia. Sei-o pelo que sinto aqui, agora, sobre esta ponte onde estamos.

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