segunda-feira, 2 de junho de 2014

São Gonçalo do Amarante

Consta da tradição popular que, certa feita, vindo Jesus por uma estrada deserta, deparou-se com Gonçalo, músico da cidade portuguesa de Amarante. 

- Mestre, em que lhe posso ser útil para diminuir a tristeza deste mundo? - quis o artista saber e nisso foi perguntando.

- Ora, Gonçalo, por mais que faça, não conseguirá dominar o espírito rebelde dessa gente, e mais ainda desses que se divertem no prostíbulo da vila - respondeu Jesus. -Passei lá e eles se mostram surdos aos ensinos, iguais a outros que preferem continuar na perdição.

- Senhor, haverá, por certo, meio de educar. Quem sabe a música toque os seus corações. - falou Gonçalo, disposto a colaborar na divulgação do caminho do bem.

- Tudo pode acontecer. Já que é violeiro, quer experimentar esse recurso da música? - acrescentou o Mestre divino. Seguiram prosando e, depois desse diálogo, os dois combinaram que, na hipótese de o músico realizar a proeza de transformar os pecadores do prostíbulo da vila de Amarante, receberia em dobro as bênçãos.

Gonçalo seguiu na missão. Quando chegou à comunidade, tratou de acertar, naquela mesma noite, uma festa em que tocaria para quem viesse ao salão de dança. Os frequentadores do lugar aceitaram de bom grado o convite, animados, naquela rara oportunidade. 

Festejaram a noite toda, até de manhã cedo. No cantar do galo, ainda se ouvia o pinicado da viola do músico. Era chegada a hora de trabalhar. Todos deveriam procurar suas obrigações, sabedores, no entanto, de que, mais tarde, de noite, se repetiria a função. Mulheres e homens recebiam de bom grado bem a chance de se alegrar com a música de Gonçalo. 

Enquanto isso, a notícia se espalhava das cercanias aos lugares mais afastados, quando escureceu. Vieram as pessoas interessadas no folguedo que invadiu a madrugada. Antes do fim de cada festa, Gonçalo repetia o convite para a noite seguinte. Não deixava diminuir o ânimo dos frequentadores, e dessa forma continuou dias seguidos. À noite, os bailes animados; de dia, os afazeres duros do trabalho de cada um dos convivas, a fim de manter a sobrevivência.            

À maneira de Gonçalo, todos, sem exceção, tanto as mulheres quanto os amantes, viram a contingência de largar os vícios e a fornicação, por meio da música sadia e da exaustão, nas numerosas festas 

Alguns dias mais, e concluiu a tarefa e se apresentou a Jesus, levando consigo a fieira de almas que havia catequizado. Conta mestre Joaquim Pedro da Silva, o responsável pelo grupo da dança de São Gonçalo que existe na subida do Horto, em Juazeiro do Norte, que Gonçalo, fazendo daquele jeito, adquiriu merecimento de poder socorrer os que lhe procuram, sem precisão de outros intermediários, chegando até Deus com a sua força espiritual, pois dispõe da ciência que recebeu de Jesus quando atendeu ao ofício que Ele determinou.         

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