terça-feira, 17 de junho de 2014

Geraldo Lobo

Quando criança, em Crato, conheci Geraldo Macedo Lobo, Doutor Geraldo, qual nos acostumamos a chamar, amigo de meu pai, pessoa educada e culta. Residia, nos idos da década de 60, à rua Cel. Raimundo Lobo, cercado da animação dos filhos, família bonita e numerosa. Ali, em volta da casa, havia amplo espaço sombreado de árvores frutíferas, onde reinava sempre clima de fresta. Aos finais de semana, na companhia de convidados, servia refeições realçadas pelo churrasco que ele mesmo cuidava de providenciar, uma das habilidades adquiridas quando vivera em uma fazenda do Sul, a trabalhar como agrônomo, a sua formação universitária. 

Nas manhãs e tardes, das mais agradáveis, se ouvia os acordes do Trio Irakitan, Nat King Cole, Billy Vaughn e sua Orquestra, e demais sucessos do período.

Ele, pessoa distinta, dava o tom das conversas, presença agradável como poucas, de trato hábil e leve nos gestos, argumentação e sorriso nos lábios. Usava uns óculos de lentes grossas, verdes, que destacavam a miopia avançada, curada em fase posterior da vida, pela Medicina, permitindo-lhe conhecer detalhes nunca antes vistos, motivo da enorme satisfação que transmitia a todos. 

Recordo com facilidade do entusiasmo que demonstrava ao ler em voz alta trechos dos Clássicos Jackson e outros livros, que manuseava diante de farta biblioteca. Lia e comentava, demonstrando prazer contagiante, tiradas filosóficas e ricas de conteúdo literário. 

Por tantas vezes, pude privar da salutar educação daquela família e da sabedoria expressiva do seu chefe. Depois, à medida que em tomei gosto pelas letras, vim encontrar os poemas dele, assinados com o pseudônimo de G. Lobo, nas páginas da revista Itaytera, do Instituto Cultural do Cariri, e saber da propensão de poeta inspirado, amante das artes que primava no íntimo. Somadas as peças, compreendi melhor a personalidade refinada de Geraldo Lobo, misto de tabelião e líder comunitário, inclusive candidato a vereador nas eleições municipais de 1950, e intelectual apreciador da boa literatura. 

Pelo decorrer do tempo, solidifiquei amizade aos seus filhos, dos quais fui colega de Samuel, no Colégio Diocesano, revendo muitas vezes Doutor Geraldo e Dona Adamir na faina do cartório, à rua Senador Pompeu. No andar dos acontecimentos e devido os filhos irem estudar em Fortaleza, aos poucos se distanciara do dia a dia cratense. 

Assim, guardo comigo, face ao papel especial que bem desempenhou na sociedade de Crato, as melhores lembranças desta pessoa prestativa e civilizadora de Geraldo Macedo Lobo.

2 comentários:

  1. Caro Monteiro,
    É fiel a tua descrição desse venerável Senhor,e embora desconheça essas particularidades, por não ter sido desse convívio,a mim me tocou e por alguns instantes pude vê-lo.Lembramos dele,dos filhos e das filhas,naturalmente,sensíveis e glamurosa.Recordei de um nome, talvez, Sandra:
    magra,esbelta de olhos e cabelos claros,curtos e encaracolados que arrancava suspiros nos adolescentes de então...
    Obrigado por me ter ajudado a relembrar e fazer desfilar,mesmo que por alguns segundos,essas imagens marcadas e incomparavelmente felizes.

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