terça-feira, 17 de junho de 2014

Ildefonso Lacerda Leite

Em 1900, dona Fideralina conseguiria materializar sonho acalentado pela família, isto quando Ildefonso, seu primeiro neto, colou grau no Curso de Medicina da Faculdade do Rio de Janeiro, onde desfrutara, na Capital Federal, as benesses dos salões cariocas e se dedicara às luzes da ciência.

O jovem médico escolheria fixar residência e clinicar na distante Princesa, cidade pequenina do solo paraibano, estado onde nascera seu genitor, Luís Leônidas Lacerda Leite, o meu bisavô. 

Consultório montado, também instalara uma farmácia nos moldes da época, com a manipulação das substâncias químicas e aviamento dos medicamentos receitados, longe, longe dos moldes da indústria farmacêutica moderna.

Vivendo o cotidiano da cidadezinha com ideias positivistas trazidas do meio acadêmico, o novo doutor exercitava conceitos de livre pensador, daí nutrindo pouca afinidade com os costumes religiosos dos sertões, razão do desgosto que lhe votava o pároco da freguesia. Enquanto isso, porém, merecera as graças de Dulce Campos, moça distinta, filha do Cel. Erasmo Alves Campos, gente importante da região. 

Demorou pouco até conquistar em definitivo o coração da donzela, que, no entanto, fora notada também pelo delegado da localidade, Manuel Florentino, aparentado próximo.

Sentimentos identificados, e só custariam alguns meses até os dois, Dulce e Ildefonso, se unir em matrimônio, angariando, de tal modo, inimizade figadal na pessoa do outro candidato à mão da bela infante.

Lá uma tarde, indo à farmácia buscar medicação para a esposa, grávida do primeiro filho, Ildefonso teve de passar defronte à residência do rival e, ao regressar, se viu apunhalado pelo antigo pretendente de Dulce e, em seguida, assassinado a tiros com a participação de terceiros.

O trágico ocorrido não demoraria de chegar ao conhecimento de Fideralina. Estarrecida com a brutal fatalidade, ela reuniria grupo de cabras do Tatu, que, municiados e somados aos de outros coronéis amigos, algo por volta de 100 homens, viajaria levando as recomendações da matrona que, da missão, trouxessem as orelhas dos responsáveis pela morte do neto, provindo daí a notícia histórica de que D. Fideralina, ao rezar, desfiava rosário formado pelas orelhas dos algozes do neto, qual dizem algumas lendas que dela circulam mundo afora.     

Um comentário:

  1. Parabéns!
    O Ceará, o Cariri cearense e Lavras da Mangabeira precisam saber das histórias do passado para homenagear a quem de direito.
    Braços.
    Cristina Couto.

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