Essas pelejas representam bem o decorrer do tempo nas vidas; de repente, as pessoas que ali estavam, naquele canto, desaparecem da memória, somem caprichosamente. O esforço do cérebro de completar a sinapse restaria frustrado e o circuito da recordação se interrompe, deixando tremendo nada avassalador em forma de ausência. Gentes, coisas e acontecimentos sumiriam feito encanto desfeito, num assustador e tremendo susto de pedaço de chão que as águas da correnteza levam.
Certa vez, perguntaram a Leonel Brizola se ele gostava de ler. Respondeu que sim, que já lera muito, muitos livros, jornais, revistas. Mas, em face dos compromissos, naquela hora se via distante da leitura, prazer que muito apreciava.
- Hoje leio as pessoas, pois cada um de nós é um livro aberto – seguiu dizendo. Nisso lembrou provérbio africano que afirma: Quando morre um indivíduo se fecha uma biblioteca.
São inúmeras as informações depositadas pela existência na mente, que vagam neste mundo entre as criaturas, experiências inéditas aos demais que circulam entre as circunstâncias, a preencher o espaço da memória de valores, vivências, lembranças, lampejos raros, inspirações, criações, imaginações, viagens, sentimentos, livros lidos, filmes vistos, histórias ouvidas, segredos revelados, climas, jornadas de trabalho, etc.
Nada mais desesperador, portanto, do que procurar uma doce recordação depositada em locais íntimos da alma e achar apenas restos amarelados de saudades e distâncias intransponíveis. Dor de não ter tamanho sentir tais amarguras. O outro lado de igual situação aparece quando se revira as dobras dos dias que passaram e, lá embaixo, reaparecem as ternuras antigas que, acesas e risonhas, em jeito de música, de palavras, emoções, perfumam os refolhos do coração da gente.
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