Avistei o primeiro bando de ciganos quando ainda vivia na fazenda do meu avô, em Lavras da Mangabeira. Um universo de bichos e tralhas com eles viajava mundos afora. Paravam onde lhes dessem arrancho, o mínimo de confiança a que pudessem montar acampamento.
Ali no Tatu permaneceriam algum tempo, semanas, na bagaceira
do engenho defronte à casa grande, vasto pátio que dominava o centro dos
acontecimentos da propriedade. Cumpririam à risca as intransigentes determinações
do meu avô de não bulir na roças, nem nos terreiros das casas, à procura de
roubar bichos ou objetos, pois sua fama era essa, de exímios espertos com as
coisas alheias. Uma raça bizarra, cheia de costumes exóticos, a partir da
linguagem utilizada, dotada de termos desconhecidos, entonação cantada; as
mulheres, de longos vestidos de panos estampados e cores berrantes; os homens,
com calças folgadas e camisas de cortes e desenhos noutros moldes, diferentes
do uso sertanejo. Tipos humanos de características nórdicas, alvos alourados,
olhos claros. As mulheres adotavam cabelos longos e pentes, laços e tranças nos
cabelos.
Arrastavam consigo animais de carga e montaria, caprinos,
ovinos, tachos, malas, baús, peças decorativas, adereços, múltiplos produtos para
negócios que insistiam efetivar juntos dos que deles se aproximassem. Compra,
venda, troca; o que melhor lhes rendesse.
A origem dos ciganos remonta o infinito das eras. Conhecidos
por senhores das estradas, procederiam
do Antigo Egito, da Índia, ou da Mesopotâmia, sem merecerem, da pesquisa
histórica distante, a precisão exata de onde surgiram. Devido à língua que
adotam, entretanto, prevalece a versão de que provêm das populações do noroeste do subcontinente
indiano, regiões do Punjab e do Rajastão. Obrigados a emigrar, buscariam o
Ocidente; África e Europa. No século XV, diante das perseguições contra judeus
e muçulmanos, também foram discriminados. Chegaram a considerá-los malditos
filhos de Caim.
Em Crato, acompanhei
de perto, nos finais da década de
Depois, nas
minhas andanças pelo interior da Bahia, notei presenças ciganas em regiões
próximas a Salvador e pelo sertão de Jequié. Porém, nos últimos dez anos, quase
nunca mais soube notícias desse povo nômade e aventureiro que marcou legendas durante
os séculos da colonização na América, contudo senhores individuais de uma cultura
sólida e peculiar.
(Illustração: https://brasilescola.uol.com.br/historiag/ciganos.htm).
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