Quem viveu em Crato nos anos 50 e 60 com certeza conheceu o padre Frederico Nierhoff, nascido na Alemanha e responsável, durante vários anos, pela paróquia de São Vicente Férrer, no centro da cidade. Dotado de senso empreendedor, fez a reforma da igreja e ampliou o salão paroquial, além de instalar um arrojado projeto comunitário no distrito de Ponta da Serra, na localidade denominada Mata, iniciativa exemplar, deixando marcas profundas de liderança religiosa em nosso município.
Homenzarrão de quase dois metros de altura, voz
cheia, tonitruante, deitava sotaque a lhe denunciar a origem germânica, vindo
morar no Brasil à época da Segunda Guerra, para trabalhar junto de sua ordem
religiosa que construiu, no Sítio Recreio, o Seminário da Sagrada Família, em
cujas instalações hoje funciona o Hospital Manuel de Abreu, na saída para a
Batateira.
Demonstrações de sua personalidade forte deixaram
marcas indeléveis na memória do povo cratense, também por conta de algumas
vivências pitorescas, guardadas nas histórias locais. Sinceridade e bom humor
caracterizavam-lhe as atitudes.
Dentre as histórias mais conhecidas que ponteou vale
anotar o caso célebre de um casamento de noivos da zona rural que oficiou,
certa feita. No instante em que as partes se aceitariam no definitivo do
compromisso, a noiva manifestou a inesperada recusa. Desfez-se o cerimonial
para só depois de alguns meses voltar a acontecer.
Da segunda vez, inverteram-se os papéis. Dessa vez
(quem sabe se por revanche?), o noivo negou-se a receber a parceira, motivando
novo constrangimento de familiares, convidados e celebrante, outra vez, não
vendo concretizada a união que prepararam.
Até chegar a terceira data, as coisas exigiram um
tanto mais de tempo; arrastaram-se, porém, mesmo assim a se verificar, na maior
das expectativas.
Todos postos, silêncio apreensivo dominava o ritual,
quando feitas as clássicas perguntas; suspiros de alívio percorreram o ambiente
das núpcias, após os dois, felizes, responderem a palavra mágica do sim tão aguardado.
No entanto ainda restava o lance derradeiro daquele
drama, quando algo de incompreensível sucedeu. O `Padre Frederico fez ecoar seu
vozeirão pela nave da igreja a dizer:
- Pois agora quem não quer sou eu - contra-atacou o
vigário. - Vão embora que eu não celebro mais esse casamento encruado -
terminando desse modo com a solenidade, sem legitimar as bodas.
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