Um dia, chegou à região manada de cavalos selvagens, animais imprevisíveis que surgiam do mundo estranho das florestas e desapareciam do jeito que chegaram, livres e sem dono, soltos pelas vastidões oceânicas, fugindo da aproximação de qualquer ente humano.
Corajoso, no entanto, o filho lançou-se na busca de prender esses bichos bravios, indo conseguir depois de muitos esforços, detendo-os ao cercado existente junto da casa onde moravam.
- Rapaz de sorte o teu filho, ainda na flor da idade e já adquiriu riqueza - comentou vizinho, a observar, na companhia do pai, as atividades do moço no curral a domar o rebanho que espanava impaciente pelos gritos e chicotadas do trabalho bem difícil.
- Isso é o que hoje a gente pode ver - respondeu pausado e cauteloso o pai, que também admirava as iniciativas do filho querendo amansar os cavalos inquietos. – Pode ser, ou não, essa boa sorte dele - completou.
Passadas algumas semanas, quando apareciam os frutos iniciais da custosa tarefa, o jovem se viu arrebatado pela fúria de um dos animais, que lhe jogou ao chão, indo, na queda violenta fraturar com gravidade o turno superior de uma das pernas, prostrando-se ao leito longas semanas.
- Lembro agora o que disseste daquela vez - recordou o vizinho, enquanto visitava o doente e a família abalada pelo acontecimento, acrescentando: - Na verdade, o que poderia ser boa fortuna tornou-se perda para teu filho, meu amigo. Com isso, também sofro contigo!
Sem muitas palavras a dizer, o pai, tristonho, respondeu: - Não é assim que analiso as circunstâncias, não. O que sucedeu pode ser de bom alvitre, todavia.
Entrementes, alguns meses transcorridos e sérios conflitos explodiram na fronteira, com povos em litígio motivando guerra descomunal, à qual foram levados aqueles viventes do campo russo.
O sossego do lugar amargou período brutal. Gastos imensos. Tributos pesados. Os jovens engajaram nas tropas, dentre eles os amigos do domador de cavalos, que persistiu ainda meses inválido, face do acidente, a ponto de só ele de sua geração ficar de fora das escaramuças.
Não tardou e, de novo, se ouviu, entre os dois vizinhos, outras considerações quanto ao jovem: - Ah! Disseram bem tuas palavras de que aquilo tudo traria a sorte do teu filho.
Ensimesmado, olhos acesos e semblante pensativo, o pai permaneceu envolvo no silêncio, sem externar o que lhe dominava o coração, deixando o próprio tempo contar ao amigo da sabedoria infinita do Destino.
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