sábado, 26 de abril de 2014

Páscoa ou Travessia

Levados ao Egito por José, os israelitas permaneceram na nova pátria o tempo suficiente de formar uma população numerosa, a princípio dotada dos reais privilégios da corte, situação que, com o passar do tempo, se reverteu noutro destino. A sucessão do Faraó e o desaparecimento de José os transformaram em cidadãos de segunda classe, a ponto de serem vistos como estorvo, perseguidos e jogados na escravidão.

Diante do sofrimento judeu, veio Moisés, emissário da libertação movido de sentimento messiânico. Sob ordenamento superior, manteve conversações junto do soberano para conduzir seu povo de volta à Palestina, sem, no entanto, obter maiores chances, vista a importância econômica daquela mão de obra escrava no reinado.

Por causa de pragas cruéis a lhes arrefecerem os ânimos, os egípcios permitiram a saída do povo de Israel. A data desse acontecimento marcante representa o que se conhece por Passach, Páscoa, ou Travessia, momento em que os judeus saíram da sujeição do Egito para a libertação da Terra Prometida. Nesse mesmo dia, o Senhor tirou do Egito os filhos de Israel ordenados em exército, diz o livro do Êxodo (12, 51).

A décima praga corresponderia à perda dos primogênitos, o que se abateu inclusive sobre ao próprio rei, impondo a condição premente de deixar ir embora os judeus, que, liderados por Moisés, ainda perseguidos de perto pelas tropas de Ramsés II, cruzaram as águas do Mar Vermelho e rumaram para o Deserto da Arábia, onde viveriam por mais 40 anos até chegar ao Sinai, onde se instalaram.

Naquela noite, para identificar suas casas, receberam a determinação de matar um cordeiro, ou um cabrito, sem defeito, macho e com um ano de idade, e marcar com seu sangue dois batentes e a porta.

Nas imediações de Jerusalém, essa data veio de ser celebrada também por Jesus, seguindo a mesma tradição, e às vésperas da paixão que viveria, para indicar a salvação à Humanidade, exemplo que significou o seu transe de se libertar da escravidão da carne para a libertação do espírito.

Reviveu Jesus idêntica travessia, para simbolizar os instantes que viveria ao ser imolado pelos romanos e príncipes do Sinédrio, demonstração cabal a todos os humanos da mansuetude do cordeiro face às contingências da Libertação.

Por isso, o gesto se repete ano após ano, para avivar o instante da mudança definitiva naqueles que pretendam cumprir a Profecia da transcendência entre os dois mundos. Numa das margens, o reino temporal, privilégios mundanos, faustos e posses. Na outra, a esperança verdadeira do espírito iluminado pelas luzes de Tempo Novo, forjado na paz das consciências.

Eis a porta que se abre aos corações, no exercício da Verdade imortal.

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