segunda-feira, 21 de abril de 2014

O judeu errante

Submetido ao juízo do Sinédrio, em seguida Jesus passou pelo crivo de Pôncio Pilatos e foi entregue aos soldados romanos. Tiraram-lhe as vestes, envolveram-no com manto púrpura, açoitaram-no, puseram-lhe sobre a cabeça uma coroa de espinhos e fizeram com que transportasse a cruz da própria execução.

Conta lenda européia do século XVII que o Mestre Divino cumpria o seu itinerário de dor através de vielas, becos e caminhos, diante da multidão ruidosa de palestinos, quando, exausto, tombou sob o peso do madeiro infamante que aos ombros carregava.

Na ocasião, um homem se destacou do populacho, veio próximo dele, aplicou-lhe violenta chicotada e, desdenhoso, vociferou:

- Levanta! Rápido! Vamos logo com isso!

O Justo, erguendo a vista, identificou quem falara tais palavras, olhando-o nos olhos. Nisso sentenciou:

- Vou, mas tu irás caminhar longe tempo esperando por mim, até que eu volte à Terra.

Naquele instante nascia a lenda de Ashaverus, o homem que recusou Deus, presença constante da literatura universal através de autores vários, dentre esses Schiller, Goethe, Chamiso, Shelley, Borges e Eugenio Sue, o qual, na obra O judeu errante, também contribuiria para disseminar o mito pelo restante do mundo.

No Brasil, o autor Machado de Assis escreveu um conto narrando as aventuras do personagem que percorre várias civilizações e épocas, sempre na espera da libertação prevista, submetido às condições de imortalidade do decreto angustiante. Ainda defronte perigo fatal cumpre ileso o destino estabelecido durante ali na Via Dolorosa.  

Dizem tradições que, depois do incidente, Ashaverus continua anônimo de cidade em cidade, onde para nada além de três dias no mesmo lugar; contudo, jamais perde o ânimo de caminhar, pois não morrerá antes do Juízo Final, na segunda vinda de Jesus.

Nesse período, terá retornado a Jerusalém uma vez, para observar as ruínas previstas por Jesus deixadas na segunda dispersão da raça que saíra mundo afora. Desde então, vaga ignorando a origem dos recursos que o alimentam. Caso receba mais do que precisar para viver, ele toma a iniciativa de passar aos necessitados o que ficar.  

Para o escritor José Alarcón, esse anônimo (lendário) acha-se encarnado e simbolizado, segundo algumas interpretações, por todos aqueles povos do mundo que são obrigados a dispersar-se, fugitivos e errantes, como rebanhos acossados pelo fogo, por todas as terras conhecidas, sem pouso certo, sem reino nem país que possam dizer que seja seu.



Eis a lenda do judeu errante, manifestada pelas diferentes culturas humanas.

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