quarta-feira, 30 de abril de 2014

Nós por nós mesmos

De comum, se planeja com empenho a perfeição individual, fruto das mensagens recolhidas nas religiões do ensino dos grandes mestres, dos manuais de auto-motivação que existem em profusão nas bancas de revistas, livrarias e templos. Colhem-se daqui e dali notícias do possível na força da superação dos baixos instintos e começo de uma vida nova, o que convida à realização rumo da sonhada felicidade.

Porém essa vontade constante de transformação de sonhos em realidade esbarra, vezes e vezes, nos limites da personalidade, nos hábitos antigos, arraigados costumes rotineiros, caracteres empedernidos na lei do menor esforço, acomodação e conformismo, modelos frouxos que nos impusemos ao nosso tronco, que dizem nasce torto e morre torto. Uns sonhos impossíveis, portanto, se quer impor. Justificar a persistência nos descasos consigo, outro método inútil, faminto e sem virtude.

Há, no entanto, as fórmulas válidas ao dispor dos que pretendem realizar, independente das sereias tentadoras. 

Erguer-se nos próprios passos e determinar estradas ao deserto agressivo da mediocridade. Criar o incriado, no território íntimo de Si mesmo. Reelaborar o instinto da salvação no peito interno, e fluir outros metais liquefeitos em formas antes inexistentes.

O que distingue os inertes dos realizadores será, por isso, a coragem de ousar. A matéria prima sempre se compara; carnes, sangue, ossos, vida. O que muda, apenas, o eu que comanda o indivíduo. Jamais haverá dois eus iguais entre os seres. Ainda que clonadas, as ovelhas saem sozinhas do ventre que as pare. A natureza-mãe doa constantes suas leis à vaidade dos homens, a deixá-los na doce ilusão de sábios, meros exploradores da ciência, aventureiros da razão.

Conquanto se desejem todos vitoriosos, a queda participa das jornadas diárias desses seres viventes, o que indica valiosa lição de humildade. Ninguém queira exclusividade nos acertos, pois habitando este chão vive o risco da queda. A força desse conceito reserva um aprendizado claro. Sabedores falíveis, a diferença representa a capacidade em refazer os caminhos e começar outra vez a viagem. Da tempestade à bonança, retomar o fio da meada e dar a volta por cima.

Aula das gerações, desistir do que vale a pena demonstra fraqueza. Já que cair é lei da vida, ter forças para se levantar e recomeçar eis a grandeza que simboliza a essência de nós mesmos. Que sejam, pois, garra e persistência em tudo o que se proponha aos motivos de construir a história desta vida.

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