Há poucos dias, estudava com Virgínia, minha filha, as aves brasileiras, quando nos deparamos com o jaburu (ou tuiuiú, uma das maiores aves do continente americano e símbolo do Pantanal mato-grossense. Além do seu tamanho avantajado, chama a atenção pelo ninho trançado nos galhos de arbustos como o manduvi, a piúva, ou em troncos de árvores secas).
Retornei no tempo e cheguei à época quando participei do
jornal A Ação, ao lado de Antônio Vicelmo, Pedro Antônio, Armando Rafael,
Huberto Cabral, Padre José Honor, dentre outros mais. Lá, um dia, recebemos a
notícia de que pássaro diferente achado por caçadores no município de Mauriti.
Sem demora, na madrugada do dia seguinte rumamos ao lugar
do acontecido para registrar o assunto.
Abatido por disparo de espingarda, o pássaro não resistira
ao ferimento. Tratava-se de espécie desconhecida na região, bicho pernalta de
penas brancas, papo vermelho e patas e bico negros.
De início, opiniões se dividiram entre as pessoas do sítio
e que sabiam alguma coisa na área de passarinhos: Seria um grou ou um jaburu,
era a dúvida?
Anotamos os dados para o jornal e fizemos algumas
fotografias do que sobrara da ave, cujo corpo viria trazido na carroceria da
camionete que transportava a equipe, para ser oferecido ao laboratório de
biologia do Colégio Diocesano, em Crato, onde seria empalhado, condição a que
se submeteu o proprietário das terras da incomum localização.
Semanal, A Ação circularia no fim de semana com a notícia
logo na primeira página, ilustrada com duas fotografias do pássaro. Eram
precários os meios de edição da época. Mandava-se a Fortaleza as fotos e
devolviam-nas em clichês, chapas de zinco gravadas com as imagens, avós do
atual fotolito da impressão off-set e da moderna policromia. Devido à pouca
qualidade da técnica, as reproduções, por vezes, saíam truncadas, borradas,
escuras, ou claras em demasia.
Vistos limites gráficos, a técnica ficava devendo em
termos de nitidez. Daí, quando vieram as fotografias da edição com a notícia do
jaburu, numa delas Pedro Antônio sustentava o pássaro à sua frente, com a
mancha da cabeça a se fundir no desenho do rosto do repórter, formando uma só
figura.
Jaburu é ave de corpulenta e chega 1,15m de altura. Seu
bico, grosso e afilado, mede até 30cm de comprimento. De pescoço preto, tem a
parte do papo vermelha, dotada de elasticidade. O branco é a cor predominante
das penas. Vive em bandos em lagoas e rios piscosos. Voa a grandes distâncias
em elevadas altitudes. Assim, num desses largos percursos, o belo exemplar da
ave pantaneira pousaria em terras caririenses, no entanto sem chances de
sobreviver, naqueles idos de 1966.
(Ilustração: Jaburu-tuiuiú (http://renatogrimm.com/bemtevi/pantanal/).
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