quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

O somatório dos dias

 

Disto, do que somos feitos, pequenos cristais da mais imensa das tradições, místicos artefatos de uma sorte a tantas mãos em movimento. Tudo, enquanto isso, de formar os degraus da infinitude e tanger o rebanho do que seremos minuto a minuto. Nós, seres só então iguais ao minério da Criação depois dos trâmites das inconfidências, dos festejos e das dúvidas. Posseiros das tais tradições e dos tantos firmamentos, descemos, subimos, talvez num mesmo instante, naquilo que antes fomos, deixados ao limbo da matéria, (talvez), do pouco que hoje haveremos de ser em definitivo.

Transposto o céu das outras vezes, nesta hora, de novo, fixaremos imaginárias habitações a firmar nas saudades os refolhos da alma. Seres assim esquisitos até a si próprios, vagos, às vezes livres, transidos pelas ondas sucessivas das novas estações; sofridos, sorridentes, olhos fixos em toda soberania; seremos os parceiros das mesmas sombras, sequência das trilhas do sabor e das estruturas frágeis de que pensávamos ser feitos, no entanto.

Através dessas ruas cheias de quantos personagens semelhantes que conjecturam viver as histórias contadas nas telas deste mundo mecânico, veem-se uns aos outros e se acreditam nas certezas de milhões das estrelas a rebrilhar na noite das ausências lá adiante. Suportam existir, na esperança doutra realização além dos meros calendários escritos, enfim.

As casas, os edifícios soltos das estruturas urbanas, o movimento dos automóveis de muitas cores, motos, semáforos, vendedores ambulantes, lojas, painéis ilustrando a repetição dos conceitos, autoridades, praças, ruídos inesperados, microfones abertos, bancas de jogos, revistas, perguntas e respostas; entes misteriosos a percorrer os antigos chãos das cidades abandonadas, luzes que iluminam o enredo inesperado, porém suficiente de repensar o estreito espaço entre o sonho e a realidade.

Nisso, todavia, consistem os acontecimentos ocupantes dos dias, das multidões afora, neste mar das existências. Tantos a fustigar as ânsias fugazes do Destino, de revelar a compreensão na razão desse motivo original de estar aqui e alimentar o Tempo e suas presenças e plenitudes.


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