domingo, 8 de dezembro de 2024

Intérpretes do Destino


Se podemos viver apenas uma pequena parte do que há dentro de nós, o que acontece com o resto. Amadeu de Almeida Prado (Trem noturno para Lisboa)

As quantas formas de considerar inclusive as lendas do que contam a propósito dessa estada junto dos objetos daqui do Chão. Vive-se de experimentar tantos momentos, quantos sentimentos, pensamentos, emoções. Sempre a ter o que dizer de tudo. Olhos fixos nem sei aonde, porém braços fortes de viver a todo custo as percepções variadas desta existência.

Por mais se tenha motivo, no entanto a longa estrada dá de cara com o desfiladeiro das sombras, das saudades, num vazio por demais, onde as horas viram séculos e os séculos viram coisa alguma, nada.

Enquanto isso, mantemos fixos no Infinito a dança das multidões, senhores absolutos das ausências incontidas. Daí, vêm fama, poder, relacionamentos, colcha de retalhos dos segundos que, apressados, cortam os sóis e, soltos ao sabor das imprevisões, nos deixam atônitos de tanta sede do amor verdadeiro.

Disso, contudo, restam as histórias, fermentos intactos do inesperado a trazer o conforto dos sonhos, das trilhas fantasiosas das ficções, razão de sonhar que o tempo mostra aos mais atentos. São eles os personagens intactos de tudo quanto houver lá algum dia nalgum lugar, nalguma varanda do Sertão, a meio das estrelas no céu e ao sabor de uma brisa aconchegante, depois de tardes calorentas. Olhar as memórias e reviver lembranças inesquecíveis das experiências e dos firmamentos. Bem longe, as músicas, os hinos, benditos, pássaros distantes, ecos avermelhados dos finais dos dias e uma força misteriosa a nos percorrer as entranhas.

Assim, presenciar a intensidade da longa noite desse universo e rever todos os conceitos, numa viagem esplendorosa de dentro da gente, cheia de indagações e respostas ainda vagas do que sejam, entretanto, persistir e encontrar a essência da jornada do inevitável. Sermos, pois, reais intérpretes desse transe que nos levará a perfeição do Absoluto e de achar, de uma vez por todas, a razão de estar aqui, causas e nexos do quanto existir durante o fulgor de todas as gerações.

(Ilustração: Paisagem da queda de Ícaro, de Pieter Brueguel, o Velho).

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