segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

A sina do poeta


Dia desses, numa das ruas centrais de Crato, me avistei com João Roberto Coelho, que, na ocasião, me ofereceu uma pequena publicação de versos de sua autoria publicados pelo Serviço Social do Comércio – SESC, através dos projetos Armazém do Som e Performance Poética.

Os poemas enfocam temas variados, desde aspectos sóciopolíticos do planeta Terra, passando pelos valores morais de seus habitantes, atualidades gerais do sistema que domina as instituições, prenhes de demonstrações daquilo que impera no caráter das pessoas, sonhos e aspirações de épocas melhores, de sofrimentos transformados, sertão ameno e esperanças redivivas, às lutas existenciais dos aspectos de grupo, natureza humana, injustiças da ordem vigente, variação das personalidades, dúvidas e a arte difícil de palmilhar esse chão carente de uma reforma agrária substancial, tema da peça que conclui a coletânea do autor.

Escrever significa transcender a condição restrita de cada sistema individual no esforço da vontade audaz de chegar além, aos outros e dizer dos próprios pensamentos, aventuras intermitentes que varem o Universo, busca das respostas que a vida faz e se ler à medida dos olhos internos do coração.

No livro Cartas a um jovem poeta, Rainer Maria Rilke resume com propriedade alguns aspectos da criação, aonde diz que uma obra de arte é boa quando nasceu por necessidade.

Queiram ou não as rotinas sociais, o poema impõe sua condição de gênero de primeira água, porquanto, qual as flores sem função alimentar definida, alimentam a alma até de quem duvida que alma existe. Todos viventes guardam em si as lembranças dos milhares de poemas que consumiram e esqueceram na consciência, porém que formam a trilha dos dias, através da memória inconsciente, audições do tempo, frutos da inspiração dos poetas os quais talvez nem lembrem o nome, as músicas de cada geração.

Mesmos os iletrados se alimentam desses poemas dispersos no transcorrer da vida, retendo na cabeça e sentimento as marcas cotidianas de amores e momentos, razão mágica das flores de beira de estradas, a ilustrar os passos, amenizando o peso da camada atmosféricas das fases cinzentas, ou das alegres quermesses de temporadas felizes.

Nos versos de João Roberto, nota-se uma intenção de interpretar a função de viver e, nisso, repassar ideias, senso crítico dos que guardam detalhes essenciais da peleja, focos e condições dos caminhos, nas emoções do poema. Recebe as influências de largas preocupações internas, das perguntas ao vento, respostas vagando na história.

Noutro momento de seu livro, Rilke, poeta tcheco que viveu entre os séculos XIX e XX, época de profundas transformações, afirma que as obras de arte são de uma infinita solidão; nada as pode compreender e manter e mostrar-se justo com elas. É sempre a si mesmo e a seu sentimento que deve dar razão contra toda explanação, comentário ou introdução dessa espécie.

Por tais motivos de quem sabe mais, silencio e admiro os poemas desse moço caririense que se pretende poeta e realiza seu sonho.     

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