Que ela vivesse ali na floresta sem maiores preocupações, disso ninguém pode duvidar. Daí que, certo dia, no final da manhã, lá que vem um bando de meninos levados; voltavam da escola cheios de novidades e querendo chegar logo em casa a satisfazer o apetite. No entanto, eis que avistam a lagartixa, inocente animal cheio de confiança até em menino que saísse apressado da escola. Nisso, a notar o grau de periculosidade em vista, a lagartixa maquinou um dos seus velhos truques aprendidos com a avó, de se transformar em uma garatuja, bicho imaginário dos velhos sonhos de infância.
E assim ocorreu, a lagartixa vira uma garatuja quieta num
canto, o que despertou nos meninos a vontade de levá-la consigo até em casa.
Improvisaram, pois, um balaio de galhos e folhas e foram em frente.
Em casa, a temer que a mãe questionasse quanto àquele bicho
esquisito que levavam escondido, trataram de entrar pela porta dos fundos e despejar a
garatuja no depósito lá dos fundos, de quinquilharias da despensa. Foram comer, correr e
agitar, nessa vida infantil que levavam a sério no sítio afastado.
Outro dia, antes de sair ainda foram olhar a garatuja entocada. Quieta no canto em que a deixaram, ninguém mexera com ela. E foram de novo às aulas. Contudo não contavam que a mãe desde cedo arrumasse a casa e desse de cara com o bicho no mesmo canto em que as crianças a deixaram.
Mais do que depressa, pegou de uma vassoura e uma pá e
atirou a garatuja bem longe, lixo abaixo, da colina onde viviam.
Nessa hora, a lagartixa, então, acordou do encantamento e fugiu
apressada, voltando à floresta, dessa vez mais desconfiada ainda de meninos levados e
conhecedora dos riscos por que passam os animais neste mundo aqui do Chão.
(Ilustração: Secretaria de Meio Ambiente da UFC - Universidade Federal do Ceará).
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