terça-feira, 10 de dezembro de 2024

O império das palavras


Esse mesmo poder oculto que têm os pensamentos, também possuem as palavras, território livre entre os humanos, traços de personalidades, restrições, farpas, limites de tempo e espaço, a flutuar sobre o silêncio magistral, numa extrema determinação das circunstâncias a elas submissas. Querem vida própria a ponto de impor condições e confrontar a mesma realidade de onde nascem e desaparecem, independente da vontade dos seus usuários, a bem dizer seus submissos senhores.

Ser-se-iam meros objetos da humana criação, porquanto nada mais significam do que objetos de utilização em casos esparsos e celebrações de resultados parciais. Trastes velhos à medida de seu uso, tangidas aos estercos de currais abandonados pelos protagonistas até há pouco donos de si, porém virtudes sem maior compreensão. Daí que enchem farnéis imensos dos viajantes desse universo restrito onde habitam e fogem na medida do tempo em movimento. Seriam quase que apenas rastros deixados aqui no lodaçal da dúvida de onde vieram, marcando festivais de vanguarda e noites do total isolamento dos que vivem o abandono da Civilização.

Uns as desmerecem, porquanto idolatram o silêncio... Depois de tudo, no entanto, arrastam consigo as sórdidas lembranças de vestais que os admiraram até receber o custo inevitável do desaparecimento. Velem de marcos definitivos de eras sucessivas lá onde pautaram credos e reinados nas fulgurações de tantos reis esquecidos. Peças raras de relacionamentos, transpostos os instantes, definem outras visões nem sempre iguais ao que antes foram.

Vez que retribuem ao pé da letra esses conceitos de gerações, representam longas dores e prazeres inigualáveis de todos, a largá-las nesse mar ilimitado das horas pelas florestas dos corações em movimento. De resto, refletem quantos conceitos escreveram a História que ora some à medida em que aguardamos novas lendas e verdadeiros sonhos.

(Ilustração: Castelo de Brennand, Recife PE).

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