Primeiro, as pedras, as paredes das cavernas. Depois, os papiros, o couro de animais, o papel rústico. Mais adiante, as cartas, os livros, as revistas, os jornais. Depois, com as máquinas de gravar, os disquetes, os cds, dvds, pendrives, hds. E essa vontade monumental de conter o fugidio. A ânsia que tem a beleza de permanecer, se eternizar na memória do tempo que conservamos dentro da gente durante mais alguns dias. Essa fome de continuar. Desejo de perpetuar nas vidas o que escorre pelos séculos feito nuvens que riscam os céus e derivam no Infinito.
Enquanto isto, a lindeza das manhãs, dos finais de tarde, as flores, os animais, as paisagens esplendorosas que compõem o cenário fabuloso dos lugares. Isto sem querer contar aquilo que transcorre na alma dos apaixonados, das crianças, dos pais, dos artistas, tudo a preencher de leveza o cruzar dos firmamentos.
Nalguma vez pensei o que haverá de riqueza ao descobrirem uma máquina de gravar os sonhos, mesmo que haja necessidade dos cortes daquilo que fira, que doa, que destoa, qual fazem hoje na montagem dos filmes. Mas, de certeza, será o clímax de um novo cinema. E bem possível que seja, pois já gravam os sons, as batidas do coração, o fluir da circulação, a sinfonia das estrelas, etc.
Nisso, eis que surgirá o valor de preservar os mistérios da vida que passa numa velocidade constante, sem a mínima intenção de fazer-se eterna, conquanto já o seja, ainda que nem disso percebamos em toda sua intensidade. A História, em seus momentos, impactos, crises, no entanto, careceria de revisões periódicas, visto nascer das ações humanas tantas vezes impensadas, rudes, prenúncios de agonias.
Que assim seja, nalgum momento aonde possamos assegurar a grandeza dos instantes sem a angústia do que esvai e machuca de saudade a sumir no desfazer, sem que nada afirme que regressarão. A escrita, de quando em vez, padece, pois, desse desengano, no que pese o empenho dos autores de fazer perene o que nos toca de quanta pureza e paz, a luz que clareia viver.
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