sábado, 23 de março de 2024

A era dos malassombros reais


De antes, bem antes, havia visagens noturnas, caiporas, mulas sem cabeça, sereias, gnomos, fadas, duendes, tais assim. E suas histórias preenchiam as palestras nas varandas dos rincões afastados, a encher de medo aqueles que voltavam sozinhos aos seus lugares. Lendas e lendas, que encheram a literatura pelo mundo inteiro. As mitologias das civilizações que sustentaram demorados estudos, inclusive, que avaliaram os temas, os considerando frutos do medo, da imaginação, da fantasia, das paranoias e demências. Eram às vezes contos místicos, heranças sagradas doutras dimensões a fora. Preservaram com o devido respeito e fizeram com que chegassem até hoje, alimentando as literaturas, crenças e os sonhos...

Porém que passaram incólumes, viventes apenas do imaginário popular, das artes, dos circos. No entanto outros malassombros seguiram adiante e dominariam a mentalidade dos povos em formas de resultados perversos, trágicos, e que receberam amparo tais mitos válidos, motivos de práticas e costumes. Quais sejam a considerar? Os vícios de modo generalizado ser-se-iam exemplos disso. A receptividade do comércio às vendas de substâncias danosas à saúde e que recebem status sociais e respeitáveis, numa inversão que persiste desde os tempos mais antigos e que destroem gerações e gerações a pretexto de lazer e distração.

Noutro aspecto, a indústria da morte através das armas, monstro devorador das gentes, que significa, nada além, do exercício do poder maligno dos países que os utilizam na sofisticação da indústria e das tecnologias, a serviço da eliminação das gentes e sua dominação e conquista, longe que seja de conter a sanha feroz que reveste, num despudor de catástrofes sucessivas e motivos de admiração dos continentes. São milhares, milhões de mortos e desaparecidos à guisa desses instrumentos letais e seus resultados assombrosos.

Enquanto isso, a mídia tão só divulga até esgotar o interesse dos que acompanham os noticiários, na semelhança daqueles antigos que se reuniam em volta dos picadeiros e das fogueiras, a contar das histórias dos fantasmas e das feras que vagavam pelas noites. Agora eles são reais, os campos de batalha oriundos da selvageria da própria raça dos humanos, algozes e vítimas de si próprios no sentido das consequências que nem de imaginar estejam em condição.


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