Por vezes me pego imaginando o que seriam as palavras sem as emoções que lhes correspondem. O que dizer sem a sensibilidade, os motivos que nascem lá de dentro e querem, a todo custo, achar um meio de abrir as portas de sair pelos momentos, correr mundo, fazer deles algo que os transformem nas saudades que alimentam o dom de existir.
Comigo acontece, nalgumas horas, de despertar de um sonho onde encontrara pessoas que tocaram os sentimentos e, depois, querer regressar ao sono e buscar as razões de deixar de lado aquelas sensações revividas. A bondade da existência vem disso, desse apego aos instantes de paz, alegria, amor, e que nunca desejamos tivessem, de novo, sumido na voragem do tempo, no meio dos cascalhos.
As madrugadas têm quais valores, no silêncio das horas calmas, a trazer de volta outras madrugadas cheias de lembranças acondicionadas no íntimo das memórias. Ali, nas folhas vivas dos dias, somos estes que se navegam nos desertos das ocasiões que cicatrizaram e somem a outros gestos. Espécies de espelhos, sonetos eternos, vagamos cautelosos pelas ondas do mar imenso que todos habitamos e nem sabemos sustentar nas dobras do coração.
Isto são pessoas, lugares, acontecimentos, que mais parecem dominar o que significamos, e assim sobrevivemos a duras penas ao instinto de ser feliz. Quanto a isso, num jogo entre agora e nunca mais, resistimos e sustentamos as luas do Destino, máquinas de sonhar e preservar os sonhos enquanto vida houver.
Daí o contraponto das literaturas, poemas, romances, contos maravilhosos, que perpassam mistérios sem fim que a arte contém nos seus deslumbramentos. A gente quer aquietar o impulso de revisar o firmamento e suas vozes, mas as noites, no entanto, apenas alimentam de sons e letras que gritam o desejo das falas. E terminamos dizendo, pouco a pouco, dessas luzes apressadas que riscam a nossa consciência quase adormecida em seus traçados no céu.
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