Desde as lombadas dos livros, passando pelas lembranças esparsas que dominam as horas, até chegar ao chão de cimento queimado da casa de meus avós, são viagens profundas a mim mesmo através de jornadas incomparáveis. Qual inextinguível eco de todo instante, vivo contido nas encostas dessas fronteiras do eu que sou e do eu que sente, e desconheço por completo o outro lado disso. Muralhas infindáveis se veem largadas na imensidão. Vez em quando me detenho a sobreviver face às tantas favas contadas que já conheço de tempos anteriores, gravadas em algum lugar de mim feitas cicatrizes. E nisso, nessa trilha persistente, transcorro do passado vivo que sou eu ao futuro do que serei.
Junto farelos de tudo o que vou achando pelos caminhos. Fisionomias. Falas. Emoções. Palavras soltas. Cores. Histórias lidas, ouvidas. Objetos. Muito disso na firme disposição de transcender as fábulas nas folhas das estações que chegam e vão a qualquer momento. Essa aflição de mim para comigo que significa existir. Reunir fagulhas de tempo, sobras de espaço, movimento, tradições, que nem de longe as contenho nas dobras das recordações e logo adiante insistem, apressadas, desaparecem a fim de reaparecer ali adiante.
Frações incontáveis das nuvens que chegam aos ouvidos na firme intenção de sustentar a essência de alguém que sei ser eu. Pesam, reviram, repousam, contudo qual falassem de outro que não esse que lhes esteja a prestar atenção, numa espécie de sonho quiçá em fase primitiva, e se escondem debaixo do silêncio.
São esses vácuos intermináveis de compreensão o que faz permanecer, quando somem os detalhes, o que vem e vai do que sou, pedaços perenes. Sei que restarão intactos nalgum ser, apesar da fragilidade da percepção do que imagino que fosse eu.
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