Se a terra gira em torno do sol ou se o sol gira em torno da terra é uma questão de profunda indiferença. - Por outro lado”, ele continua: - Vejo muitas pessoas morrerem porque julgam que a vida não é digna de ser vivida. Vejo outros, paradoxalmente, sendo mortos por ideias ou ilusões que lhes dão uma razão para viver – razões para viver são também excelentes razões para morrer. Concluo, portanto, que o sentido da vida é a mais urgente das questões. (Albert Camus, in O mito de Sísifo).
Há dias claros como a luz das salas de cirurgia, quando a esperança corre solta por um fio brilhante de bisturi, aos olhos vesgos dos especialistas de armas em punho e sorrisos clínicos encobertos por baixo das máscaras brancas da matemática oficial da vida.
Noutros, o barco emperra areia da
margem cinzenta das várzeas sem chuva no sertão, paisagens vazias dos córregos
cheios de antes, na flor das alvoradas.
Os amigos em festas circulares
chegam de repente e denotam cordialidade. Música das almas. Cheiro bom de terra
molhada. O vento do estio nas telhas encharcadas de renovos. Portas fiéis.
Nuvens...
Depois disso tudo, toca o
telefone e o assunto mistura o que se pretende contar... E deixar de lado o
desejo incontido de encaminhar um tema no papel, passar a quem lê o que se transcreve
do lado de cá do universo, bem próximo dos maiores extremos.
Sentido impõe condições acima de
outros aspectos perdidos na ilusão dos sentidos. Um marco único. Duas
extremidades do trilho suave da noite das espécies, que fermentam sede
monumental do perfeito, uns céus quase dentro das mãos que escapolem por entre
os dedos, contas de vidro corrosivo, convergências toscas do sonho imortal da
eterna felicidade.
Ainda que encharcados de euforia,
leve sopro de brisa desmistifica a fome gritante de verdades perene nesta fase
do tempo. Contudo os pássaros cantam; o verde reverbera; o Sol gira no próprio
eixo; a Lua surge metálica nos finais das tardes, no poente; as crianças riem
na algazarra mais simples e irreverente; as flores; os mananciais; os tetos
manchados de rotos sinais, notas musicais, silêncios longos; momentos da alma
que geme de dor, amor, espera.
As pulsações em passos lentos
percorrem o espaço; qualquer névoa tinge de fulgor o espelho das memórias
adormecidas.
Jamais como antes espectros
perfurarão o vazio do sentimento. Novas notícias alimentaram o frêmito do
coração e pediram (imploraram) esclarecimentos dos próximos passos a seguir.
Sonhos em elaboração nas florestas do mistério. Só isto, pronto.
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