Isso de viajar dentro da gente que chamam de existir busca segurar as frações de tempo que nos percorrem as veias. São átomos intercalados de querer, gotas do Universo, justos, precisos, a cair nas nossas mãos. Olha-se em volta qual seja presenciar um rio aos nossos pés. Conquanto atentos aos mínimos detalhes, no entanto serão águas passadas a cada instante. Transcorrer pessoas, ocasiões, sóis, pensamentos, às vezes ausências e saudades, na música das outras horas que regressam e pisam outro tanto o solo do coração. Um monstro valente esse, a lutar conosco todo momento num passado insistente que adormeceu e regressa afoito vez em quando. Doces lembranças, estocadas ao sabor das horas bem ali adormecidas. Mesmo que tal, de vida própria que domina invariavelmente.
Vejo quais agoras o tanto do que vivi e que se transforma em muitos eus que os adoro de serem pedaços de mim e de tudo o quanto conheço das situações que cercam o ser que sou. Nisto revejo de olhos acesos as paisagens em fragmentos de tudo que há e haverá sempre. Consciências do quanto esteja e continuará sendo diante do Infinito.
São esferas entrelaçadas no azul que nos envolve, a iluminar de sentimentos o ente que somos, moléculas de sabor inatingível e distâncias incomparáveis, pássaros encantados de muitas lendas e nossos desejos. As palavras falam disso, de formas em ação no decorrer dos dias. Quero fugir dessas tais correntes intransponíveis que, de tão poderosas, apenas fazem de todos seus enredos e jornadas inimagináveis. E adormeço nos braços da paciência; acalmo os gestos e padeço dos muitos sonhos que os encontro de tempos e tempos. As noites falam, refazem seus planos e trazem de novo o que alegrou e satisfez naqueles céus a quem amo quais nenhum outro, e que seja eterno o autor das raras circunstâncias.
(Ilustração: O jardim dos prazeres terrenos, de Hieronymus Bosch).
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