A parecença com o momento de agora fica por conta da dominação que sacode a área externa do mundo convulso em suas práticas de guerra. Naquela fase, em 1966, a bola da vez prenunciava escalada vietnamita de largas proporções, o que se verificou nos princípios da década de 70. O Brasil vivia o desânimo libertário, pois perdia espaço, nas ruas, praças, escolas, o ímpeto de transformação democrática, a sumir nos calabouços e na clandestinidade.
Em Crato, achávamo-nos à frente
do Grémio Farias Brito, do Colégio Diocesano. Encenávamos a peça Um chalé à beira
da estrada, sob a direção de Alzir Oliveira, nosso professor de História e
amigo dos alunos. Declamávamos poemas modernos em pontos diversos da cidade,
através do Jogral Pasárgada, formado de sete componentes do colégio: Zadir,
Pedro Antônio, Gilva, Eros Volúsia, Clenilson, Bebeto e eu.
Resolvemos, então, publicar um
jornal mural, O Bacamarte, depois ampliado em um órgão mimeografado (à
tinta), o Nossa Opinião, do qual chegaríamos a tirar até 100 cópias e ficou só
nos dois primeiros números, abafado logo no seu nascedouro pelas ameaças
daquele trágico período político.
Nesse mandato, estivemos, ao lado
de Aglézio de Brito, presidente da União dos Estudantes do Crato, e de José
Terto, presidente do Grêmio do Colégio Estadual, em um congresso do Centro dos
Estudantes Secundaristas do Ceará, em Fortaleza, realizado sob fortes
conotações militares repressivas.
Espírito de contestação impunha atitudes rebeldes. À
noite, após reuniões de acalorados debates e transmissão de informações
desencontradas, saíamos, nas madrugadas, a pichar as paredes das ruas centrais
com dizeres relativos ao momento de expectativa, fogo consumidor daquele turno
de existência.
É um tempo de guerra, é um tempo sem sol. É um tempo de
guerra, é um tempo sem sol. Sem sol, sem sol, tem dó. Sem sol, sem sol, tem dó,
eram alguns dos versos que cantávamos, em segundo plano, característica das
apresentações do Jogral, enquanto Pedro Antônio, à frente, declamava em altos
brados: - Só quem não sabe das coisas é um homem capaz de rir! – seguido de
outras palavras da canção Tempo de guerra, de Edu Lobo.
Esses são alguns quadros da época
em que partilhamos das experiências culturais de um Crato fervilhante de jovens
promessas e movimentações apreensivas, lembranças que retornaram esta semana,
ao rever José Esmeraldo Gonçalves, velho amigo desse tempo, quando juntos
elaboramos o Nossa Opinião. Ele que veio ao Cariri na ocasião do
aniversário de 90 anos de sua genitora, dona Maria La-Salette Esmeraldo. Mora
no Rio de Janeiro, onde trabalha na revista Caras. Dispõe de raros
intervalos semelhantes a este de voltar à Região; o promete, no entanto,
repetir, noutras oportunidades. (Texto de 2003).
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