quarta-feira, 1 de julho de 2015

A aflição dos amores impossíveis

Quando nem dera tempo de existir, pois não houvesse a oportunidade em que nasceu diante do mundo real, ou viesse a lume pelas folhas urgentes do momento, ou cruzasse o espasmo das emoções. Espécie intermediária entre o furor da paixão e os sonhos dos desejos, marcas indeléveis de dramas guardados nas valas do inexistente. Permaneceram ali esquecidos no meio da distância regulamentar de vontade e ilusão, força neutra que orienta os animais desesperados quando buscam o repouso de outro coração impaciente. Por mais quisesse, todavia os circuitos da visão deixaram largados bem longe os sentimentos, as sensações. 


Há conto de Machado de Assis, A missa do galo, que reflete isso dessa vontade contida só nos de dentro exíguo do território mágico da saudade, sem percorrer a praia longa dos gozos e alegrias, origem de toda saudade dos amores, depois arquivada nos gavetões definitivos do coração, saciados ao toque físico e desenfreadas experiências, por exemplo, o que, no citado conto, deixa de ocorrer. Conquanto existente íntima probabilidade de dois vivos, pensantes, amarem, porém irrealizável na existência absoluta das horas, o que, caprichosamente, recusa receber plena a concretização. 

Este espaço invisível do mundo emocional das criaturas que aceitam gestos mútuos porém lá certa vez decepa quaisquer inícios concretos, naquele instante de permitir a efetivação do plano comum. Argumento por melhor seja ele se transformar ineficaz dalguns merecerem livre trânsito do critério, nas tempestades frívolas do desejo.

Bom, muitos contam episódios assim semelhantes de voos interrompidos da esperança que, ausentes, sumiriam nas curvas da longa estrada de normas sociais ou circunstanciais, meros protagonistas de filmes improváveis, enredos imaginativos feitos na ausência prévia. Daí cogitação de denominar saudade ineficaz tais produções inacabadas. A força da vinculação amorosa deixaria de produzir resultados eficientes no painel dos relacionamentos, sem uma palavra sequer, um gesto de calor suficiente, ainda que reste no íntimo ser o fervor caloroso dos palcos e das vivências.   

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