quinta-feira, 30 de julho de 2015

Sonho de perfeição

Assim como na carne sonha o espírito, o sentimento sonha no pensamento. E escrever é isso, sentir e recorrer aos pensamentos a que forneça palavras suficientes de falar o que sente e que quer dizer o coração. Enquanto isto, perguntas sucedem umas às outras, no desejo imenso de revelar essa espiritualidade que habita os escombros dos dias e das horas, esforço da sobrevivência dos tantos descompassos e fragmentos, busca soberana de descobrir de si próprio.

Há, então, vazio incomensurável nessas sombras que a tudo envolvem na força dos fantasmas que insistem manter o anonimato. Bem diante do nada absoluto que constrange face a face o dragão das vaidades humanas, névoa tênue sobrevoa e encobre o mistério dessa espiritualidade ainda vivendo calada no mais íntimo sacrário do coração. A continuar em fase de puro silêncio, habitando só o âmbito das palavras junto do saguão e próximo do pensamento, ali sofre o Eu, sofre a paisagem, sofre toda a família do ser sensível-pensante.

Antes, pois, das descobertas definitivas da existência eterna que significará vida perene, a pisada persiste no sofrer da saudade infinita de chegar ao conhecimento definitivo das verdades interiores. Longe das praias reais da imortalidade do Ser, um nada salgado ecoa nas dobras do Infinito da alma da gente que sonha nas malhas da carne. A isto Soren Kierkegaard, filósofo dinamarquês, classifica de angústia, o desconhecimento da espiritualidade, o que ocasionaria o Nada existencial, espaço que apenas a consciência da plena luz um dia preencherá.

Resta nisso o caminho das noites da culpa e do pecado hereditário a clamar transformação por meio das revelações maiores e dos valores transcendentais da religiosidade pura. Contudo o espírito ainda sonha durante a carne e o sentimento estabelece os contatos primeiros com o pensamento, relações de profunda coerência da vontade do espírito perto dos bastidores da Verdade. 

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