quinta-feira, 23 de julho de 2015

A tartaruga tagarela

Lenda indiana dá conta que houve um rei que gostava de falar, falar além dos limites e das oportunidades, a ponto de monopolizar as palavras onde quer que estivesse, costume reprovado silenciosamente e detestado pelos seus súditos, dentre os quais o Buda, conselheiro do soberano, e que buscava a ocasião certa de lhe transmitir ensino que corrigisse o nocivo hábito. 

Perto do palácio vivia uma tartaruga por demais intrometida na vida alheia e também tagarela contumaz, desgosto da bicharada que morava nas proximidades da lagoa em que ela habitava.

Belo dia, em viagem de migração, chegou ao lugar casal de patos. Ao notar o modo abusado com que a tartaruga usava a fala causando contrariedade nos viventes da lagoa, os patos decidiram convidá-la a passear com eles pelos céus da região e apreciar a paisagem num voo de reconhecimento.

Lançaram mão de uma vareta que, presa ao bico de cada um dos patos, nela a tartaruga prendeu a boca, assim se fixando com segurança na experiência. 

Nem demorou tanto tempo no passeio quando, avistados pelos súditos lá embaixo, este exclamaram admirados: 

- Vejam que proeza. Dois patos transportando uma tartaruga com o próprio bico.

Bem na hora, quando passavam sobre os jardins reais, dona tartaruga, sem controlar o instinto de falar, não se conteve, aborrecida pelas observações que ouvia, lá de cima gritou abrindo a guarda:

- Que é que vocês têm com isso. Vão cuidar da vida, magote desocupado.

Em consequência, soltou  o suporte onde vinha pendurada, indo se espatifar no chão quase aos pés do rei, que dali presenciava tudo aquilo.

O Buda ainda acrescentaria alguns detalhes do incidente à alteza real, que deixara de observar melhor por conta do quanto tagarelava naquele instante junto de um grupo de pessoas em torno dele. Assustado sob o impacto do acontecido, o monarca acalmou um pouco os pensamentos e fez ligeira reflexão. Depois, pouco a pouco reuniria os frutos da lição da tartaruga tagarela, disso adotando outro comportamento de só falar o necessário e nas horas convenientes, reunindo de tal modo as energias que usava nos cuidados com seu povo.   

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