segunda-feira, 20 de julho de 2015

Uma história qualquer

Bom, vou contar do jeito que grudou nas lembranças, aos pedaços soltos, essa história. 

Houve civilização quando as pessoas chegavam à idade provecta (outro nome de velhice, que alguns também chamam de ancietude, terceira idade, eufemismos conciliadores), e nessa época da vida todo ano se promovia animado festival ofertando aos deuses exemplares dessas pessoas já sem muita resistência física e esperança de vida. Era festa da lavoura em que os paramentavam e mandavam a sacrifício, sob o olhar atento de jovens e adultos, imolados que seriam nos altares do templo.

No entanto, cidadão que morava com o pai em lugar afastado da povoação, em cabana escondida no escuro das matas, resolveu contradiz o costume secular da raça e decidiu manter seu genitor anônimo, isolado, o quanto pode, dado o respeito e o carinho que lhe nutria.

Transcorreram anos até gastar o estoque inteiro dos anciãos nos festejos das tais propiciações coletivas. Esgotaram toda gente no ponto de oferecer nas adorações. Enquanto isto, de repente, o clima mudou e seca terrível assolaria a região. As lavouras definharam a ponto de morrer quase tudo, vegetação, animais, e as pessoas correr risco de fugir ou padecer de fome cruel. 

Nisso, no sentido de aplacar a ira dos deuses, resolveram edificar novo templo, na intenção de angariar outra vez a simpatia e o favorecimento do desconhecido. Cortariam grandes trocos da floresta e utilizariam na outra construção das adorações. Logo no início, porém, descobriram que ninguém no meio deles sabia qual a posição correta em que deviam colocar as colunas de madeira, porquanto os antigos que conheciam o assunto haviam sido executados nas lapidações humanas das praças públicas.

Nessa hora, o homem que escondera o pai longe das vistas do grupo revelou que sabia que ainda restava raro exemplar da espécie nas condições exigidas daquele conhecimento, mas que apenas diria onde estava ele caso mudassem a lei daí adiante, deixando que velhos pudessem existir mesmo que possuíssem mais idade e pouca força.

Dias reunidos, pesarem e mediram, e decidiram aceitar a proposta do filho fiel. Então o único idoso que sobrara na comunidade veio orientar a construção no estilo tradicional. Depois, pouco tempo transcorrido, a paz voltaria a reinar e o bem estar regressou a toda gente. 

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