Quase nunca as bases decidem mudanças e ficam perplexas
diante dos acontecimentos. Salsas. Tangos. Rumbas. Cumbias. Rocks. Merengues.
Teatros. Cinemas. Shows de sangria nas calçadas. Povo correndo. Sirenes gritando.
Pavor. Desengonço. Trepidação de carros em disparada. Canhões. Movimentos de
tropas. Torturas. Escamoteios. Foguetes. Violência. Violência em vários graus.
Ignorância dos subúrbios em xeque. Esgotos a céu aberto. Crianças catando lixo
envelhecido nas colinas de urubus em festa. Portas fechadas e dramas
repetitivos nas telas de ricaços embrutecidos pela gorda indiferença. Os
homens. As mulheres. Seres humanos que descem e sobem nos elevadores do poder,
indiferentes aos apelos ensurdecidos de anúncios espalhados aos quatro ventos.
Tortas recheadas de fel em doses duplas. Noites amarelecidas em lençóis mornos.
Amargor na boca do estômago. Existências vazias. Tortos caminhos de iguais
existências amorfas, melancólicas, ausentes de atitude. O calor das muriçocas
em forma de ventiladores zoadentos. Luares românticos, ineficientes, suores de
cólica. Impotência visceral. Apenas fatais e sujos magros heróis de fancaria.
Vilões de si mesmos. Fantoches do destino. Profetas da carência de sentido em
tudo no carrossel ensandecido. Poetas derrotistas da desesperança. Uma doença
antiga, tão antiga quanto presente em todas as épocas da Humanidade. A inútil
dor alheia que não consome os outros, porém que mata sem pedir a conta dos
circunstantes em volta, indecisos, covalentes de chanchada, adiposos asmáticos
em turmas pecaminosas. Autores de bombardeios que assassinam crianças. Monstros
noturnos que jogam nas mesmas máquinas eletrônicas que espalham a droga nos
puteiros e nos salões ilustrados da burguesia subserviente. Valores espumosos
das canastras das ruas descalças. Pruridos vãos dos traços cruéis nas
superpotências e suas atitudes pecaminosas. Diante de tanto amargor, as traças
carcomem os seus filhotes, exemplos de uma raça que se vitima, na fila dos
amargurados torpores, hemoptises, flatulências, incólumes, no entanto, sintomas
do mal dos milênios. Solidariedade vadia, leviandade doentia, justificativa
injusta, toneladas de gastos e os pacientes alarmados batendo palmas ao
espetáculo de pão azedo e circo silencioso, que repete a história das almas que
se locupletam, os neutrocovardes decantados nos almanaques, criaturas esdrúxulas
e nefastas, alimentadas de lama podre, resistentes aos instintos de conservação
e sobrevivência da espécie.
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