O primeiro portador até ali não retornara com as notícias. Despachado logo cedo para acabar com o festejo e saber dos responsáveis, sumira de tudo, sem vir, nem mandar qualquer recado. Essa a razão da impaciência do proprietário das terras, na sala principal da casa grande, a andar num pé e noutro, transferindo contrariedade aos ouvidos tensos da esposa. Sentada perto de uma janela, a mulher fixava os olhos no escuro do terreiro, à espera dos acontecimentos.
Nessa hora, resolveram chamar outro morador e encaminhá-lo com a mesma finalidade.
Outro tanto de tempo, quase uma hora depois, e nada de resultado. Algo, na verdade, de esquisito existia naquilo tudo. As ordens do fazendeiro jamais seriam desconsideradas do jeito que, naquele momento, se verificava. Esperariam só mais um pouco.
O vento soprava das bandas do lugar, trazendo nítido o calor da farra, ouvindo-se gritos e gargalhadas misturados com a música.. Lá longe, a casa de taipa fervia de animação, acrescentando as preocupações do apreensivo casal.
Ainda não retornara o segundo emissário, quando resolveram que o coronel iria em pessoa examinar de perto a afronta dos agregados. Nem imaginavam que tivera tamanha audácia de desobedecê-lo. Ultimados preparativos, ele equipou-se para entra na dança e seguiu na escuridão da noite sem lua.
A mulher tratou de fechar portas e janelas, e permanecer de sentidos em alerta. Contudo isso durou pouco; rendendo-se ao enfado, caiu no sono profundo. De manhã, Sol nas alturas, despertou escutando o marido que, desconfiado, empurrava a escora da porta, com os olhos vermelhos de quem dormiu pouco ou não dormiu. Nisso foi dizendo:
- Pense num homem divertido, o compadre Lampião. Dançou o tempo todo sem demonstrar qualquer cansaço – falou, e seguiu no rumo da cama, pois passara a noite em claro, batendo zabumba lá na festa dos cangaceiros que se arrancharam numa mata da propriedade do coronel.
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