terça-feira, 1 de agosto de 2017

O mar da Bahia

As lembranças têm vida própria. Chegam sorrateiras e invadem o horizonte do pensamento lá onde este se encontra com o sentimento, e passam a trazer fragmentos de ondas. São pessoas, acontecimentos, lugares, emoções, borbulhando de universos tardios quais animais vivos, que reconstituem o tempo e desfazem saudades escondidas. Mágicas, as lembranças. A gente sente que havia existido e nem sabia que sabia aquilo tudo antes. 


Bom, isto no sentido de falar das sensações de lembranças que hoje de manhã, na Boa Terra, resolveram, de si mesmas, aflorar até o meu coração. Eram os anos 70, quando aqui vivi. Nessa hora, especificamente, memórias do Curso de Comunicação, da Universidade Federal, que cursei. Foram vindo imagens, sons, retalhos, horas, professores, colegas, ocasiões. Aulas, situações, expectativas. Passei a perguntar ao oráculo das memórias que seria feito de Reynivaldo Brito, Fernando Portugal, Othon Jambeiro, Antônio Loureiro, Jairo Gerbase, Raul Sá, Porquinho, Cid Teixeira, Wellington, Fábio Camelo, Linda, Letícia Mohana, Guido Araújo, Florisvaldo Mattos, Milton Cayres de Brito, Chico Viana, Fernando Perez, João Carlos Teixeira, Sérgio Mattos, Albino, Carlos Libório, Renato, Ruy Espinheira Filho, outros, outros muitos, sinais marcantes das existências de então. 

Agora, por demais, quero rever os personagens de época tão valiosa, quando, decerto, reviverei, também, sonhos a percorrer veias do íntimo e aquecer o impulso de acrescentar um mínimo que fosse ao panorama dos dias. 

Quanta lição a aprender das boas companhias, dos momentos ricos em conversas animadas e grandes ideais. Um mundo transcorria nos intervalos das aulas. Planos mil de reestruturar o jornalismo, a história, a política. Palestras, diálogos, matérias. Trago tudo bem guardado no melhor de mim. As aulas em outras unidades, por conta da famigerada reforma universitária. Em Direito, Filosofia, Economia. Minha dedicação à fotografia; o grupo constante que formávamos, Dilton Mascarenhas, Fábio Camelo e eu, numa fase áurea do preto e branco. O jornal Coisa Nostra, de Nildo, em que publicávamos. 

Só aos poucos, a placenta da memória abre o juízo, deixa desgrudar sua membrana, e permite ver um pouquinho além das limitações físicas. Focos de luz debaixo dos escombros assim denotam vivências e oportunidades, abrindo o leque da ausência e permitindo olhar o todo. Uma Bahia que renasce feito folhas novas das árvores secas às primeiras chuvas. Bons sentimentos vieram juntos, misto de alegria e reconquista.

(Ilustração: FLORISVALDO MATTOS e seu novo livro. Foto de RAUL SPINASSÉ | Agência A Tarde – 12.4.11).

2 comentários:

  1. Muito bom quando perdemos as velhas folhas amareladas para dar lugar à nova folhagem verde brilhante, belo, próprio do renascimento. Renascer é sempre um momento novo, e quando lembranças existem , como disse você, as lembranças tem vida própria. E em sendo assim nelas ninguém manda é nem tem controle. Muito bom o seu reviver lugares por onde viveu.

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