domingo, 20 de agosto de 2017

O bode e o sonho

Esta história a ouvi de Dora, que ouvira de Mestre Herculano, e quero agora contar:
Um bode, vivendo no Sertão, deparou seca de proporções avassaladoras. Mesmo sendo caprino e sobrevivente nas dificuldades achar alimento, bichos esse que digerem as substâncias mais imprevisíveis, atingira os limites da fome sem alternativas.

Desconsolado, o animal vagava buscando o de comer nas quebradas daquele verão ingrato, quando avista juazeiro verdinho no meio da garrancheira da mata. Só que com dificuldade por certo intransponível, porquanto as folhas da árvore ficavam lá no alto, longe do alcance do faminto animal.

Pensou, pensou, olhando pra cima e calculando modo possível de chegar até a bela e apetitosa folhagem. Nisso, pegou no sono, de inanição e fraqueza. E dormiu... que sonhou. 
  
No sonho, descobria que dispunha da capacidade física de subir nas árvores. Via-se ali debaixo do juazeiro enfolhado e, pelo seu tronco, cuidava com isso de aproveitar as folhas verdes numa apetitosa refeição.

Instantes atrás, porém, Deus sentira dó do pobre vivente e resolvera auxiliá-lo. Bem nessa hora, o bode acordou do sonho, na fiel certeza de que vivenciava agora a realidade do sonho, e que podia, sim, subir em árvore. Foi quando Deus lhe indagou se queria aprender a subir nas árvores.
Certo de que dispunha da tal capacidade, o bode respondeu ao Criador que precisava não, que já tinha a habilidade ofertada.

Assim, naquele exato momento, perdera o caprino a rara chance de aprender a subir em árvore e, nas horas difíceis, superar a fome, talento que o Bom Deus disponibilizou na ocasião daquela necessidade.


Muitos de nós somos parecidos quando perdemos oportunidades de saber, porque, convencidos na ilusão, fazemos de conta que sabemos. Gesto mínimo de humildade é fator decisivo a quem quer adquirir a sabedoria verdadeira. 

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