segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Sementes do desconhecido

Escravizado às camadas inferiores da varada, algum animal escondido ali buscava acordar dos entulhos, dos galhos e folhas secas, até obter êxito nos esforços e surgir à vista de quem olhava interessado em descobrir o que adviria daquele movimento estranho de debaixo das entranhas do chão. Espécie alimária entre ressequida e semelhante quase à textura dos galhos e das folhas secas da entrecasca do solo, dali surge médio corpo de um jacaré filhote de boca grande e dentes afiados. Assim inesperado, preenche o espaço das apreensões de quem assistia. Algo de se recolher com cuidado ao espaço que lhe restava, em defesa dos botes do estranho visitante vindo das entranhas da terra. 

Mas achou por bem de suportar na casa a presença do inesperado ser. Haveria de superar a visita e seus modos, sempre em favor da instituição doméstica. E o tempo foi deslizando no correr dos dias, nas linhas das horas intermitentes, meses, levando a novo acontecido. 

O bicho ainda pequeno lá numa incerta ocasião acharia de se meter em um buraco de outros insetos no encontro de uma parede do lado sul da casa e nele permanecer algum tempo, sem mais, nem menos. Sumiu desaparecido dentro do furo qual houvesse terminado de tudo o drama. Que durou outro tempo, talvez longo, talvez breve, no juízo de velocidade da testemunha que acomodava os sucessivos inesperados. 

Ora só o que viria ocorrer. Daquele buraco, aonde penetrara o filhote de jacaré aparentemente inofensivo pela idade, sairia já no formato de espécie maior da mesma família dos dinossauros, mas noutras e maiores proporções, esse de pele enegrecida, consistente qual o casco dos bichos do passado geológico dos antigos predadores, e com aparência agressiva de apreciador de carne sangrada, de gente que fosse e achasse pela frente. 

Ele, que acompanhara tudo a partir do nascedouro da primeira visão, notou a gravidade dos sucedidos, presenciou em si o risco da sobrevivência em xeque, e somou as peças do enigma. Deveria sobreviver, sim, no intuito primeiro maior de cumprir a missão lhe destinada. Fugiria na primeira nave que lhe viesse recolher face ao desencanto das populações em volta de fogueiras acesas nas noites frias do estio da Terra. 

Um comentário:

  1. Ah, eu bem que gostaria de entrar nessa nave e partir sem data para retornar, mas claro, levaria comigo alguém que quero muito bem. Ah, como é como é bom sonhar...

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